| A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z | Estrangeiros | |||||||||||||
FRANÇA, José-Augusto Rodrigues | |||||||||||||
Estrangeirado típico, vivendo uma relação de amor sobressaltado com a pátria, França elaborou uma complexa narrativa da arte portuguesa que destaca as tímidas e insuficientes aproximações à centralidade parisiense, mas também a eclosão de uma espécie de génio nacional que valorizou em Domingos Sequeira, Columbano Bordalo Pinheiro, Amadeo de Souza Cardoso e, especialmente, Almada Negreiros. Quando aconteceu a revolução de 25 de Abril de 1974, França estava a pensar tornar-se investigador do prestigiado CNRC (Centre National de la Recherche Scientifique) mas aceitaria o desafio para integrar o corpo docente da Universidade Nova de Lisboa, criada em 1973. Entrou como Professor Catedrático, dedicando parte substancial da sua lendária capacidade de trabalho a criar de raiz o moderno ensino de História da Arte. Até 1992, quando, aos 70 anos, se jubilou, JAF tinha cumprido e ultrapassado o seu desígnio: na FCSH (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas) formaram-se dezenas de mestres em História da Arte Contemporânea, mas também noutras cronologias, uma vez que - com a colaboração de Artur Nobre de Gusmão, João Manuel Bairrão Oleiro e José Eduardo Horta Correia – foram criadas todas “as áreas da especialização”, marca identitária da História da Arte da Universidade Nova de Lisboa que se manteve. Foi JAF que conduziu esta revolução num sector até então marginalizado, estimulador das dinâmicas entretanto criadas nas universidades do Porto e de Coimbra e na Faculdade de Letras de Lisboa, numa profícua circulação de colaborações. França foi um professor exigente nas aulas e na orientação de dezenas de dissertações de mestrado e teses de doutoramento mas nunca lhe faltou tempo para investigar e publicar com eficácia imbatível. Após A arte em Portugal no século XIX, começou a preparar A arte em Portugal no século XX (até à década de 1960), com uma metodologia idêntica de trabalho, centrada na produção lisboeta e em fontes impressas. Foi a primeira vez, em Portugal, que se elegeu “a década” como critério pertinente de arrumação cronológica, apropriando modelos internacionais, vindos da crítica da arte e da museologia. Tal como fizera em relação ao século XIX, o estudo amplo dos contextos culturais centralizou-se em figuras chave: os principais pintores, escultores e arquitectos que tinham em comum o desejo de modernidade. O dispositivo montado densificou obras anteriores (de Diogo de Macedo e de Carlos Queirós, por exemplo), propondo uma linha direcional que, numa ascensão vanguardista, vai da figuração à abstracção e, em geral, da Academia ao Modernismo. Esta foi a visão internacional do tempo e, por isso, a obra de JAF, para lá do manancial de sugestões que continua a proporcionar, conquistou ela própria o direito à História, exigindo, aos especialistas, uma desafiante hermenêutica. Não sendo possível enumerar todas direcções de pesquisa, não pode deixar de citar-se o monumental Rafael Bordalo Pinheiro (1981) e as monografias sobre António Carneiro, Columbano Bordalo Pinheiro, José Malhoa e Almada Negreiros, bem como o permanente regresso a Amadeo de Souza Cardoso e Vieira da Silva de que foi então o mais arguto historiador. Mas há que juntar textos fundamentais, de grande abrangência temática e cronológica, recolhidos em Cem exposições (1982) e Quinhentos folhetins (2 vol.s, 1984-1993). Regressou aos estudos sobre Lisboa inúmeras vezes, até Lisboa: história física e moral, 2008, em que propõe uma história global da cidade, desde os primórdios a meados do século XX. |
|||||||||||||