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O autor de Órfico ofício (poesia, 1978) tem vasta obra de poeta e de ficcionista, de dramaturgo, de ensaísta e de crítico, de cronista e tradutor de poesia, a par de uma carreira de ilustre e respeitado professor na Faculdade de Letras de Lisboa (escola em que se licenciou em 1951), sendo de sua responsabilidade a criação da disciplina de Teoria da Literatura (1958). Desempenhou funções de direcção e colaboração intensa em revistas como Távola Redonda (1950-1954), Graal (1956-1957), Seara Nova, Diário Popular (1954-1957), entre outras. Foi Secretário Geral da Sociedade Portuguesa de Autores (1965-1974), director do jornal A Capital (1974-1975), Secretário de Estado da Cultura (1976-1979), presidente da Associação Portuguesa de Escritores (1984-1986), director do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian (1981-1996) e, na mesma Fundação, director da revista Colóquio-Letras (1984-1996). Estes elementos (e outros, repertoriados na bibliografia sobre a sua obra) dão já a ver que se trata de uma personalidade deste cedo afirmada como activa e interventiva: a par da obra como escritor e crítico, participou em variadas instâncias da vida cívica e intelectual, assumindo responsabilidades que mostram as suas múltiplas facetas. A carreira de professor universitário, o ensaísmo e a crítica mostram o scholar informadíssimo, pouco preocupado com a carreira ortodoxa: não fez nunca doutoramento – mas os seus volumes de crítica e de ensaio são superlativa prova de um profícuo, bem informado e tenaz rigor, como foi reconhecido pela Universidade, que lhe concedeu o estatuto de professor catedrático convidado em 1990. Bem o reconheceram as muitas gerações de alunos que beneficiaram do seu magistério exemplar entre 1957 e 1963, e de 1970 até ao fim da vida. O seu percurso na crítica e no ensaio dá os primeiros passos quando ainda era aluno do Colégio Moderno, em 1942 (muito precocemente, portanto), ganhando crescente corpo e consistência a partir dos anos finais da década de quarenta, sem nunca abrandar. Sirva de síntese o prefácio datado de 1959 do volume Vinte poetas contemporâneos (1960, 2ª ed. revista e ampliada 1979), constituído em parte por artigos que publicara no Diário Popular: nesse antelóquio interroga os limites do exercício crítico na imprensa, e estabelece como balizas “a síntese” e a “análise” dos textos, seguindo a lição de Curtius, Croce, Dámaso Alonso, Spitzer e outros autores (como os formalistas russos e Ingarden) para fundamentar uma prática regida por uma concepção um rigor metodológico vindo da estilística, mas que se vai mantendo sempre actual. O contexto histórico, que considera indispensável para a compreensão das obras estudadas, alia-se à necessidade de o trabalho crítico “profundamente conhecer a norma linguística, os aspectos gerais da linguagem” para bem “compreender e valorizar o emprego específico que deles empreenda o criador, o poeta” (p.19). Neste prefácio de 1959, seminal para questões patentes em toda a ensaística, afirma o peso que entende ser obrigatório dar à tradição (mormente a nacional mas nela não se fechando), tanto de autores como de questões estruturais e formais, sintetizados na “consideração diacrónica da estrutura e do género”, de temas e motivos, de mitos e arquétipos, de “conexões da obra com a vida social, a história cultural, a música, as artes plásticas” (p.20). A historicidade do literário é um princípio da maior importância já neste prefácio de 59; por sua vez, mantém em 1979 (data da segunda edição do livro de 1960) juízos porventura menos acertados que emitira, olhando-os na perspectiva de que o “rio de Heraclito também atravessa os campos da crítica” (p.25) – numa rara atitude de humildade e de coerência. |
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