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FERREIRA, David Mourão |
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Falou-se já da perspectiva “poligonal” e abrangente da obra crítica do autor de Hospital das Letras (1966, 2ª ed. 1982), questão bem presente nesse volume. Aproveite-se para observar a feliz escolha de títulos para os sucessivos livros, estendendo-se também à ensaística, em certos casos inscrevendo-se desde esses pórticos a vénia à tradição: se Motim literário (1962) vem de um porventura inesperado José Agostinho de Macedo, Hospital das letras cita a obra epónima de D. Francisco Manuel de Melo, tanto no título como nas epígrafes apostas a cada uma das aberturas de secção (sete, ao todo; poderá passar em branco tal estrutura, pois que o índice dela não dá conta). Na sétima e última delas, lê-se este trecho da obra de 1657 que Mourão-Ferreira evoca: “É necessário que se despejem os ouvidos dos viventes, como se despejam os olhos da ocupação que lhes tem feito o nome e fama dos famosos passados, para que se vejam ou ouçam e estimem os nomes e famas dos presentes.” (da “53ª fala de Lípsio”, p.81, ed.1982). Em termos de conceito histórico-literário, por um lado, postula-se a articulação entre passado e presente, sendo a linhagem um esteio indispensável para situar a leitura; mas por outro lado desenha-se aqui uma linha entre este livro e, nele, o vulto de D. Francisco Manuel de Melo, e o volume que virá a ser editado em 1976 – Sobre viventes, compilação de ensaios, vários deles “escritos em 1975. Mais propriamente ainda: depois de 11 de Março, antes de 25 de Novembro de 1975” (como explicita a curta e incisiva “Nota prévia” da página 11, que devem ler quantos queiram saber o posicionamento político de David Mourão-Ferreira nessa época pós-Revolução). Inscrição na História, pois, confronto com o real, consciência aguda de que para lá das circunstâncias está a permanência da arte literária e do seu estudo – os “viventes” resistem e persistem. Regressemos, porém, a Hospital das Letras: a abrir a secção I lê-se um capítulo da tese de licenciatura de 1951 sobre Sá de Miranda, seguindo-se-lhe textos sobre o poeta barroco Francisco de Vasconcelos e sobre João Xavier de Matos (ambos de 1964), e mais um sobre Bocage (1965). Em II reúnem-se dois notabilíssimos artigos de 1962 e 1955 sobre Garrett, e, sob o título “Notas sobre Cesário Verde”, encontram-se cinco artigos, respectivamente de 1955, 1954, 1949, 1967 e 1955 – todos eles essenciais peças críticas, sendo o de 1949 (“Da cidade para o campo”) central na bibliografia sobre o poeta de “Cristalizações”. Se se verificar a idade que o ensaísta tinha à data de publicação destes artigos hoje absolutamente clássicos, maior ainda se torna o seu lugar no panteão das letras portuguesas, também como crítico literário. Neste volume se lêem, datados dos anos sessenta de novecentos, além dos já mencionados, ensaios sobre Orpheu, sobre Pessoa e Sá-Carneiro; um deles constitui-se como outra pedra angular do percurso crítico deste autor: trata-se de “Ícaro e Dédalo: Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa” (publicado na Colóquio em1964), texto de uma “conferência proferida no Teatro Nacional de D.Maria II (…), durante uma das Tardes Poéticas organizadas por Amélia Rey-Colaço e Natércia Freire”, em Fevereiro de 1963 (p.218). |
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