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FERREIRA, David Mourão |
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Determinante para a crítica do Modernismo e para a relação entre Pessoa e Sá-Carneiro, este texto de 63 entra em espelho com outro que David viria a publicar no nº117-118 de Colóquio-Letras, de 1990, dedicado ao centenário de Mário de Sá-Carneiro: “O voo de Ícaro a partir de Cesário” (pp.204-212). Nesta dupla face dos estudos davidianos sobre Sá-Carneiro fica patente, por um lado, o gesto característico de regressar a tópicos e a autores que tem por farol, e por outro a renovação que sempre teve em mente do seu próprio percurso de ensaísta, ressaltando aqui exemplarmente – a vinte e sete anos de distância - o que é comum à sua obra neste domínio: nada envelhece, tudo se renova e aprofunda, num continuum crítico em que quem lê se defronta com a evidência de um rigor sem mácula nos textos da década de sessenta como nos que escreveu no dealbar dos anos noventa. Na mesma secção de Hospital das letras encontram-se ainda dois artigos, também de meados de sessenta e igualmente relevantes, sobre Almada Negreiros, autor a que regressará noutras ocasiões, e dois estudos sobre os brasileiros Cecília Meireles (1975) e Vinícius de Moraes (1956) – numa das secções deste último faz-se um “Paralelo com Verlaine – Poesia e fonética” (pp.169-173), análise técnica muito apurada, e demonstração do comparatismo que, antes de essa designação se ver consagrada, David Mourão-Ferreira sempre praticou com altos resultados. A fechar o livro, na secção VII reúnem-se ensaios dos anos sessenta sobre autores contemporâneos (Cabral do Nascimento, José Osório de Oliveira, Tomaz de Figueiredo, Pedro Homem de Mello, Carlos Queiroz - “herdeiro do simbolismo”, e Natércia Freire). Em suma, Hospital das letras é um livro-farol na obra do seu autor e na história da crítica em Portugal – sabedor, rigoroso, inovador, de brilhante e primorosa escrita. No campo dos estudos sobre o Modernismo, mormente sobre Orpheu, Fernando Pessoa e Sá-Carneiro ou Almada Negreiros, é indispensável considerar ainda as peças reunidas em Nos passos de Pessoa (1988). Manuela Parreira da Silva deu pormenorizada atenção a este volume (Colóquio-Letras nº145-146, 1997), sublinhando que “o facto de ser especialista da Literatura e da Cultura (…) permite-lhe lê-lo [a Pessoa] de uma forma ímpar. O seu Pessoa nunca surge isolado – é o elo de uma cadeia, um fixador de instantes” (p.367), acentuando as questões da linhagem e da representação do tempo. Em Fernando Pessoa, com efeito, destaca-se segundo David o elo que vai dos quinhentistas a Garrett e a Antero, tanto no que respeita a temas e motivos como a metros e demais vertentes técnicas. Se a tal juntarmos, como faz o crítico, os laços de Pessoa com poetas ingleses e outros, veremos como a sua perspectiva do maior de entre os de Orpheu é “poligonal”, aberta mas integradora. Vale lembrar o breve prefácio para a primeira edição em volume da correspondência de Pessoa com Ophélia Queiroz (Cartas de amor de Fernando Pessoa, 1978), no qual se lembra a Homenagem a Fernando Pessoa de Carlos Queiroz (1936), por três razões: primeiro, a lembrança de Carlos Queiroz, a cuja obra Mourão-Ferreira faz justiça em ensaios seus; segundo, porque foi por intermédio do autor de Desaparecido que o acervo de cartas chegou ao nosso ensaísta e editor; enfim, pelo rigor filológico do critério usado (“Por se tratar de uma primeira edição, respeitou-se escrupulosamente a grafia original (…); respeitou-se também o modo bem pouco uniforme como Fernando Pessoa datava as suas cartas; (…)”, p.9). |
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