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CIDADE, Hernâni António | |||||||||||||
Até à jubilação, em 1957, ensinou sobretudo História da literatura portuguesa e Estudos camonianos, mas também Filologia portuguesa, Filologia românica, Língua e literatura francesa, Literatura espanhola, Literatura italiana. Professor “integérrimo” (Nemésio, p. XVI) — um dia, pedindo-lhes desculpa, declarou aos alunos não poder prosseguir uma aula por não a ter preparado convenientemente —, tinha perspetivas pedagógicas modernas — corrigia as provas escritas com o aluno ao lado, em diálogo, com a preocupação de justificar a classificação — e acalentou assistentes que se tornaram depois decisivos nas áreas entretanto especializadas de literatura e linguística, Jacinto do Prado Coelho e Luís Lindley Cintra. Na vida da faculdade moderou a truculência e o estilo impositivo de outros colegas. Para a «família românica», é o Pai Cidade, o mesmo que prefaciou o Diário de Sebastião da Gama. Reportemo-nos aos trabalhos propriamente historiográficos. Na História de Barcelos, devem destacar-se as páginas sobre «Portugal na Guerra Mundial: 1914-1918» (VII, pp. 491-522). Começa por relatar, com dotes para nos prender à narrativa, o contexto europeu que precedeu a Primeira Guerra, não se coibindo de atribuir às nações intervenientes sentimentos típicos, traço que verificamos também nos ensaios de história literária. Explica como Portugal não se podia alhear do conflito; trata das indecisões quanto à não beligerância assumida e, na prática, a preparação para a guerra, deixando insinuadas a nossa bazófia, o caráter interesseiro da participação no conflito — as expetativas da futura conferência de paz —, a desorganização e até cobardia, o que vai alternando com a referência às desconsiderações que sofríamos da parte de ingleses, alemães ou franceses. Diga-se que é menos complacente com Portugal do que costuma conseguir ser nos artigos de índole literária ou cultural. Chegamos à exposição sobre a campanha na Flandres, que tem a especialidade de a sabermos escrita por um dos seus raros heróis portugueses. Não que isso seja reivindicado — a não ser numa fotografia que inclui o alferes Cidade na qualidade de um dos quatro primeiros oficiais condecorados, decerto inserida por iniciativa da direção —, embora se infira da segurança do relato, e de poucas marcas deíticas, que o narrador viveu o que nos é contado. No entanto, o teor memorialístico que pudesse haver fica escondido atrás de exposição muito acompanhada com dados objetivos. Esse é um traço das abordagens historiográficas de Hernâni Cidade: há um fio narrativo sequencial que consegue incorporar respaldo documental, mais implícita que explicitadamente, ao mesmo tempo que o narrador vai inculcando uma explicação dos acontecimentos. |
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