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CIDADE, Hernâni António | |||||||||||||
O prefácio de O Bandeirismo Paulista na Expansão Territorial do Brasil talvez elucide acerca da maneira de trabalhar de Hernâni Cidade, entre o historiar com base no conhecimento obtido pela leitura da bibliografia e alguma investigação das fontes primárias. Explica como nascera o pequeno livro, que retoma matérias do cap. III da 6.ª parte do terceiro volume da História da Expansão Portuguesa no Mundo. Enquanto co-coordenador dos requintados três volumes, esperara em vão que o capítulo fosse enviado pelo historiador ilustre a quem fora encomendado. Como tivera de assumir em cima da hora essa responsabilidade, passou umas férias de Páscoa debruçado sobre a literatura que pôde haver às mãos respeitante ao bandeirismo, sobretudo a História Geral das Bandeiras, de Taunay. Empolgado pelo assunto, evitou ficar-se pelo que outros tinham investigado: “[meteu-se] no Arquivo Histórico do Ultramar, e por longas horas debruçado sobre velhos documentos, procur[ou] encontrar as pegadas dos infatigáveis Haswerus, ouvir os ecos dos seus alvoroços de luta e triunfo, tanto como de barbaridades e tragédias” (p. 12). Poderíamos incluir igualmente no rol da historiografia pura, isto é, sem ter como foco a literatura, algumas das páginas que escreveu para a História da Literatura Portuguesa Ilustrada, «Séc. XVII: Aspectos gerais. A Sociedade. O Rei. O Povo» (III, pp. 115-118), que abonam a costumada erudição eclética e a redação hábil, quase em conversa com o leitor. Dirigiu os dois volumes de Os Grandes Portugueses, de divulgação de luxo, em que colaboraram académicos relevantes e para que escreveu, além de introduções, oito biografias, na maioria retomando velhos conhecidos seus. De vulgarização assumida, os pequenos volumes de Cultura Portuguesa (1967-1977; 1 a 11, com Carlos Selvagem; 12, sozinho; 13-14, com Ruy d’Abreu Torres — os volumes seguintes, 15-17, por morte de Cidade, são assinados apenas por Torres) têm índole biográfica também, pois que a aproximação a cada época resulta de monografias mínimas, geralmente em torno de reis, intelectuais, instituições, agregando o conjunto uma “súmula introdutória”. O género biográfico é-lhe simpático, como generoso é o modo como encara aqueles sobre que se debruça. Escreveu perfis de professores e colegas homenageados (Teófilo Braga, José Leite de Vasconcelos, José Maria Rodrigues, David Lopes, João da Silva Correia, Simões Neves, Luís Cardim), na maioria publicados na Revista da Faculdade de Letras de Lisboa. Na coleção ‘A Obra e o Homem’, da Arcádia, nos anos sessenta saíram de Cidade volumes de Camões, Vieira, Bocage, Antero, em parte reciclagem de trabalhos anteriores; note-se que, até pela prévia divisão expressa no título, quase não incorrem estes livros, quanto ao seu escopo de estudos literários, no pecado do biografismo. Se não o seduziu a abstração das análises estruturalistas, também raramente ancorou o comentário dos textos fora da observação da língua e do enquadramento histórico-cultural e sociológico. Algumas interpretações escudam-se, aqui e ali, na psicologia dos autores, mas nunca há a «bisbilhotice biográfica» que ele mesmo desaconselhou à camonologia. |
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