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CIDADE, Hernâni António | |||||||||||||
Por vezes, a contiguidade dos interesses por história de Portugal e por literatura evidencia-se logo no tópico dos estudos, como sucede com A literatura autonomista sob os Filipes (1948) ou com A literatura portuguesa e a expansão ultramarina (vol. I: 1943; 2.ª ed., incluindo vol. II: 1963-1964). A propósito da preparação deste livro, Cintra (p. 74) revela-nos um modo de trabalhar de Hernâni Cidade: integrava os alunos nas suas investigações, encarregando-os de leituras quer nos reservados da BNL quer na biblioteca da Academia das Ciências. Quando o foco parece mais circunscrito à literatura, é frequente ainda assim a abordagem cultural e interdisciplinar. No prólogo das Lições de Cultura Luso-brasileira... — obra de resto com original aproximação entre literatura e artes plásticas —, Cidade assume que o carácter, que se manifesta num indivíduo, é observável também nas nações e nas épocas. Haveria um carácter de cada nação e um estilo para cada época; “literatos e artistas, pensadores e políticos não apenas vivem no mesmo clima moral: dir-se-ia colaboraram na mesma obra, afinaram-se na mesma polifonia” (pp. VII-VIII). A ideia de que épocas e nações se podem sintetizar em determinadas características comparece também no Portugal Histórico-cultural, onde os escritores escolhidos são apresentados como representantes de cada época. Por exemplo, no Ensaio sobre a crise mental do século XVIII (1929, esboçado logo em aulas da Faculdade de Letras do Porto; incorporado, muito refeito, nas Lições de Cultura e Literatura..., vol. II), defende-se que, em contraste com o formalismo seiscentista português, ao século XVIII correspondera uma “transformação moral” que implicararia o gosto do real, “uma geral tendência à aproximação da verdade e da vida”, ilustrável através da obra literária do Padre Teodoro de Almeida ou com os poemas descritivos e filosóficos do Padre Macedo. Segundo Vítor Aguiar e Silva: “Na sua concepção neo-romântica e culturalista, o Professor Hernâni Cidade entende e valora a literatura e a arte como poderosas forças de unificação e consciencialização «do sentimento da dignidade social», ganhando assim sentido a união da história e da cultura — uma união exemplarmente consubstanciada naquelas figuras literárias que são, afirma Cidade, guias espirituais da nação [...]” (As humanidades..., p. 112); ou, nas palavras de Jacinto do Prado Coelho: “marca em relação a Teófilo um passo em frente, pois Hernâni Cidade imprimiu aos estudos literários uma orientação nova, histórico-cultural e até, actualizando-se, estético-estilística, diferençando-se também do seu contemporâneo Fidelino de Figueiredo” ([s.t.], p. 6). Na “Bibliografia ativa” seguinte dá-se prioridade às obras mais predominantemente historiográficas. Para a camonística, de que não se falou, veja-se Almeida, sobretudo pp. 266-268; para os trabalhos de literatura genericamente — mal se mencionaram, entre outros, os estudos e edições de Vieira —, Coelho, Cintra, Ramos, Belchior. Na Miscelânea de estudos em honra do Prof. Hernâni Cidade, Lisboa, 1957, há bibliografia mas só até 1957. A notícia biográfica “Hernâni Cidade (1887-1975). Director da revista Colóquio/Letras: 1971-1975” (Colóquio/Letras [em linha; consult. 13-7-2020], disponível em <URL: http://coloquio.gulbenkian.pt/historia/hernani_cidade.htm>) pode servir de guia para o muito trabalho nas Colóquio. Revista de artes e letras e Colóquio/Letras, de que foi codiretor com, respetivamente, Reynaldo dos Santos e Jacinto do Prado Coelho. O Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea, na Biblioteca Nacional de Portugal, incorporou em 1999 o espólio de Cidade, BNP Esp. E36, cujas primeiras doze primeiras caixas, com correspondência recebida de centenas de interlocutores, confirmam a atividade académica constante — pouco referimos os importantes laços com Brasil (professor honorário da Universidade da Bahia, membro da Academia de Letras da Bahia, sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras) —, as responsabilidades civis — citemos apenas a de presidente da Liga dos Combatentes da Grande Guerra —, enfim, a disponibilidade característica de Hernâni Cidade. |
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