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Em resumo, Reijer Hooykaas aprofundou a interpretação pragmatista e aberta a explicações sociais da significação dos saberes ligados aos Descobrimentos, que teve durante a Primeira República em António Sérgio o seu expoente (no ensaio ‘O Reino cadaveroso’); essa interpretação é compatível e tem até afinidades com os trabalhos de Olschki, Merton ou Zilsel. Hooykaas, um holandês cosmopolita cuja pesquisa não era motivada por argumentos nacionalistas lusos/ibéricos ou pró-católicos, após muito atentamente ter estudado as relações entre a Ciência e a Reforma, o que não favorecia uma perspectiva optimista sobre a perpetuação da lusa ‘revolução da experiência’, viu no nosso ‘caso’ uma configuração particular, ‘ciência em estilo manuelino’ na qual identificou elementos da modernidade impostos pelas necessidades práticas, i. e. pela interação entre a mão e a cabeça, pelo sentido do concreto, pelo abandono de preconceitos filosóficos quando se resolvem problemas concretos, bem como o desenvolvimento do rigor da observação, que em Castro se amplia para o cuidado com as causas de erro e um sentido experimental, que se combina com uma curiosidade desinteressada sentimento da beleza do mundo natural e a glória da sua compreensão, bem como um humanismo ético (erasmiano) dominado pelo cuidado com os outros e a tolerância e interesse pelos outros povos (Idem, 1981, p. 408). Hooykaas insistirá no aspecto contingente deste processo. Eram imprevisíveis as consequências desta interação entre a prática e a teoria, a qual veio a favorecer a emergência da ciência experimental; ela não estava ancorada numa perspectiva metafísica ou filosófica que desse garantias de se estar na boa via para o conhecimento do livro da natureza e nem a atitude pragmática desenvolvida podia fazer supor que nesta abordagem nova estava contida uma componente essencial da ciência moderna, a atitude de empirismo coercivo como dirá Floris Cohen, que reunida ao racionalismo filosófico grego e às suas matemáticas, com a adição de uma atitude mais humilde da razão perante o inesperado do mundo dos factos, permitirão a emergência da ciência moderna. No seu artigo de 1987, apresentado em público em 1983, Hooykaas insistirá em como a nossa revolução geográfica “marca o início de uma nova tendência, empirista e não-racionalista na ciência” (Idem, 1987/2003, pp. 22, 25-28, cit. 28). |
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