Análise Social, Revista do Instituto de Ciências Sociais da U.L, Lisboa,
(1963-1974)
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Apesar de o nome de José Pires Cardoso surgir como diretor da Análise Social até ao início de 1973, o principal mentor e impulsionador do GIS e da sua revista foi, desde a sua criação, Adérito Sedas Nunes. As suas ligações a organizações universitárias católicas e o seu empenho em cultivar a modernidade teórica e metodológica das ciências sociais contribuíram para o reconhecimento da sua indiscutível liderança deste inovador projeto intelectual. Após um ano como subdiretor (a partir do Vol. IX, nº 33, 1972, com o qual arranca uma “nova série” com novo modelo de capa), Sedas Nunes assumiu em 1973 (Vol. X, nº 38) a direção plena da revista que idealizara e promovera desde o número inicial. Foi também a partir desta assunção do estatuto de diretor por Sedas Nunes que a Análise Social passou a integrar na contracapa a identificação de um Secretariado de Redação composto por 4 membros do GIS (incluindo o diretor).
O testemunho dado por Sedas Nunes no número 100 da Análise Social é uma peça autobiográfica fundamental para se perceber a trajetória da revista e o papel que os estudos históricos nela passam a desempenhar, sobretudo a partir do final da década de 1970. Conforme esclarece Sedas Nunes, a dificuldade de obtenção e construção de dados estatísticos e fontes primárias essenciais ao trabalho dos cientistas sociais criou uma atração natural pela reconstituição de séries históricas de informação sobre a evolução recente da sociedade portuguesa, nas suas múltiplas dimensões (demográfica, social, económica, política, cultural, etc.), em busca de explicações fundamentadas sobre continuidades e mudanças em curso. Esse lugar crucial que a história passou a ocupar no diálogo privilegiado com as ciências sociais foi, por isso, uma conquista intelectual resultante da abertura da sociedade portuguesa após a revolução de 1974.
Porém, antes de 1974, não se pode dizer que a história ocupasse lugar de eleição na estrutura de funcionamento do GIS ou nas prioridades de publicação da Análise Social. Nem era de esperar que de outro modo fosse. O propósito editorial definido no arranque da revista era muito claro ao estabelecer a sua auto-classificação como revista de estudos sociais, destinada a promover a investigação no campo social. O índice dos trabalhos publicados na Análise Social entre janeiro de 1963 e dezembro de 1974 dá conta de um total de 265 artigos e notas de investigação, dos quais apenas 13 (ou seja, cerca de 5%) surgem classificados como “Estudos Históricos”, dentro de uma categoria genérica de estudos sobre a “Estrutura e Evolução da Sociedade Portuguesa”.