Arquivos do Centro Cultural Português, Paris, França (1969-2005)
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Não será, pois, de estranhar que a grande maioria dos temas abordados por esta publicação se resumam à história da literatura e à literatura, uma zona privilegiada destes estudiosos da cultura portuguesa, resultando em muito dos diversos leitorados espalhados por universidades estrangeiras, direccionados para os estudos literários.
Numa primeira análise, observamos, nesta publicação, uma clara aproximação entre história e literatura, que se torna mais consistente a partir de meados da década de 1970. Tal contiguidade é observável a vários níveis, num interesse pela biografia de grandes cronistas, pela história do teatro, pela história da literatura luso-francesa, pela divulgação de edições desconhecidas de textos literários, pelas análises bibliográficas de autores e algumas descobertas neste campo. Muitas vezes, as obras literárias são percepcionadas, nesta publicação, enquanto fontes históricas. A literatura transparece como expressão de uma cultura nacional.
Mais do que uma ciência social, nesta revista, a História parece resumir-se a uma disciplina literária, muitas vezes fundindo-se com ela. Observa-se uma transição entre uma história tradicional, de tendência erudita, influenciada pelo estruturalismo, onde o primado das fontes documentais tradicionais e literárias é uma realidade, e uma história que se renova, cultora de um forte sentido crítico. Contudo, no período estudado, mesmo com a presença de um forte número de colaboradores estrangeiros, nomeadamente franceses, não se observa a penetração das grandes correntes historiográficas em voga. O que poderá explicar-se, na maioria dos casos, por uma maior ligação dos colaboradores à literatura do que à história.
A partir de 1994, os Arquivos do Centro Cultural Português alteraram o seu título, passando a denominar-se Arquivos do Centro Cultural Calouste Gulbenkian, em mercê da alteração da designação do respectivo centro de investigação. Contudo, manteve as características abordadas. Maria de Lourdes Belchior continuou a dirigi-la até 1997, pouco antes do seu falecimento. Em 1999, a direcção da revista passou para as mãos de Francisco Bethencourt. Com o novo director, a publicação alterou por completo a sua organização, passando a estruturar-se em volumes temáticos, redigidos hegemonicamente na língua francesa. Os temas abordados extrapolaram, como sempre o fizeram, a temática histórica, valorizando as perspectivas política, sociológica, cultural, antropológica, literária e artística, observando-se uma clara dispersão de temas. Entre os colaboradores perderam preponderância os portugueses a par de um cada vez maior número de franceses e de outras nacionalidades. A revista deixou de se publicar a partir de 2005.