Seara Nova, revista de doutrina e crítica, Lisboa, 1921-1984 (1ª. Série)
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Alguns dos pontos do ensaísmo histórico de Sérgio seriam retomados ou reformulados criticamente à luz das investigações e metodologias mais em voga; outros abandonados. A partir dos anos 40, na Seara Nova e noutras publicações culturais, vão-se consolidando narrativas da história de Portugal de inspiração marxista, que se distanciam, embora com pontos de contacto, da leitura sergiana. Também alguns historiadores foram colocando reservas quanto à forma estritamente pragmática, pedagógica e actualista com que António Sérgio olhava para o passado. Não que rejeitassem a sua influência no plano cívico ou cultural, ou não considerassem frutíferas muitas das suas interpretações historiográficas e ideias sobre a história. Estas últimas eram, no entanto, insuficientes porque não contrabalançadas com uma perspectiva mais rigorosa e de acordo com regras metodológicas elementares na prática historiográfica. A crítica que Jorge Borges de Macedo fez ao prefácio do primeiro volume das Crónicas de D. João I vai nesse sentido: ausência de indicações bibliográficas, uso inapropriado e anacrónico de conceitos e juízos morais sobre o passado (n.º 1119, Agosto 1949, pp. 261-4). No ano seguinte e de forma mais genérica, Joel Serrão não incluía António Sérgio no conjunto de modelos historiográficos a seguir, uma vez que se tinha cingido a uma “atitude ensaístico-polémica que, por mais fecunda tenha sido, se apresenta, neste momento, aos olhos da geração que entrou nos trinta anos, como esgotada das suas virtualidades «pedagógicas»” (n.os 1194-5, Dezembro 1950, pp. 369-70). Em 1955, apesar de valorizar o contributo de Sérgio para a historiografia, Magalhães Godinho notava, entre outras críticas, um certo imobilismo de algumas das suas interpretações, “tomadas de uma vez para sempre”, e de uma constante subordinação do passado ao presente (Ensaios, vol. III, 1971, p. 237).
A Seara Nova, tal como outras revistas culturais ligadas aos círculos da oposição, desempenhou um papel relevante ao acomodar, dentro das suas limitações, os trabalhos de vários historiadores que estavam afastados das instituições superiores de ensino e investigação, caso dos historiadores acima referidos. Nela publicaram-se estudos, ensaios e recensões, nos quais a história não raras vezes era articulada com a intervenção cívica. Como referia Joel Serrão no imediato pós-guerra, altura em que publicou vários textos na revista defendendo a necessidade de conjugar o pensamento com a acção na sociedade, “a abstenção do intelectual é impossível” (n.º 958, Dezembro 1945, p. 261).