Seara Nova, revista de doutrina e crítica, Lisboa, 1921-1984 (1ª. Série)
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No final dos anos 50, aproveitando o entusiasmo da campanha eleitoral de Humberto Delgado, a Seara Nova iniciou uma fase de renovação, visível desde logo no aumento das tiragens médias anuais – se em 1959 era 3708, aumentaria de forma constante, atingindo os 15000 exemplares nove anos depois (n.º 1479, Janeiro 1969, p. 21). Nessa década, o preço por número variou entre os 5$00 e 6$00. Tal fase correspondeu também ao aumento do número de textos sobre a história contemporânea na revista, elucidativo quanto à reivindicação de uma maior proximidade entre o saber histórico e a intervenção na cidade, sobretudo por parte dos historiadores comunistas, interessados não só na ascensão e contradições da sociedade burguesa de oitocentos mas também no conhecimento da estrutura social onde pretendiam intervir (Neves, Comunismo e nacionalismo, pp. 329-338). As causas do “atraso” português, o processo de afirmação e contradições da sociedade burguesa, o estudo dos movimentos operários e socialistas e a avaliação histórica da acção e influência de destacadas figuras do oitocentismo português foram alguns dos temas mais abordados.
O interesse pelo período mais recente da história portuguesa, de reduzida importância nas instituições estatais de ensino e investigação, continha também preocupações de âmbito científico, de trazer esta época para o campo dos conhecimentos históricos e não apenas arma de combate político e ideológico. É nesse sentido que António José Saraiva intervém a propósito do cinquentenário da instauração da República, exortando para que fosse estudada pelos historiadores essa “república desconhecida” (n.os 1378-80, Setembro-Outubro 1960, p. 225); ou Joel Serrão quando procura chamar a atenção para a necessidade de historicizar o século XIX e as suas personalidades mais relevantes, caso de Antero de Quental, cujo legado era alvo de divergentes interpretações e polémicas na Seara Nova por esses anos (n.os 1226-27, Julho 1951, pp. 533-5, 547).