Não se encontra uma justificação imediata para o interesse de Bertolotti pela cultura portuguesa, várias interpretações são possíveis: poder-se-ia supor que esse interesse é fruto das múltiplas leituras que faz, sobretudo na segunda década do século. Mas não se pode excluir a hipótese de o autor estar simplesmente interessado pela actualidade política do país. Recordemos que Portugal voltara a interessar a opinião pública italiana graças aos acontecimentos dos primeiros anos vinte. Aliás, naquela época, Lisboa acolheu vários exilados políticos napolitanos, milaneses e piemonteses. Encontra também certa plausibilidade a hipótese de o autor ter sido estimulado por obras de outros autores: de facto, a obra de Bertolotti fora precedida pelo Essai Statistique sur le Royaume de Portugal et d’Algarve (1822) de Adriano Balbi, trabalho de elevado teor científico e fervente sentimento vintista. Contudo, apesar de ser esporádico, tal interesse não é secundário no conjunto dos trabalhos do escritor piemontês: Bertolotti foi também organizador de uma edição crítica em língua italiana da obra-prima camoniana (I Lusiadi di Luigi Camones, 1821). Seja como for, a SdP é a sua publicação de referência. Trata-se de uma obra de compilação de várias contribuições anteriores, tais como as de historiadores e literatos franceses, que nesta altura parecem canalizar os seus interesses para a história dos povos e das nações. Na SdP, Bertolotti trabalha com fontes, comenta-as recorrendo a outras fontes. Mas ao contrário de outras tentativas similares, o autor não dispensa a elaboração dos seus próprios comentários. Faz a sua própria análise. As fontes têm um papel fundamental, mas não se deixa de proceder ao exame e comentário de casos concretos, não evitando contradizer-se (a mesma coisa acontece com os seus estudos relativos à Suíça -1823- e à China -1825-, contemplados na referida série de compêndios).

Dividida em três tomos, com um índice analítico no fim do terceiro, a SdP é publicada pela primeira vez em 1824, altura em que, quer em Portugal quer na península itálica, o poder absolutista, abalado pelo vintismo por um lado, e pelas revoluções napolitana e piemontesa por outro, iniciava um período de ajuste, período particularmente prolongado nos estados italianos, posto em causa somente pela onda revolucionária de 48 e levemente sacudido pelas tentativas revolucionárias do biénio 1830-31 nos territórios sob controle dos Habsburgo e nos territórios pontifícios da Itália central.

1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | (Pdf)