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CINTRA, Luís Filipe Lindley | |||||||||||||
Adicionalmente, a escolha deste tema para o doutoramento terá sido condicionada por um motivo déjà vu depois do que o fez optar pelo curso de Filologia Românica – a profusão de professores e investigadores no campo da literatura e a relativa escassez no da Linguística [org. Faria 1999: 38-39]. Tendo começado como um projecto de edição e estudo linguístico do manuscrito da Academia das Ciências de Lisboa da Crónica Geral de Espanha, o resultado acabou por ser, como previsto, uma edição (até hoje insuperada) do texto e, como imprevisto, uma história das origens da historiografia medieval portuguesa, feita sob a orientação de Ramón Menéndez Pidal. Aos 23 anos, Cintra publicou o primeiro trabalho desta etapa do seu percurso intelectual, “Sobre o Sumário de Crónicas até ao ano de 1368 da Biblioteca Real de Madrid”, Boletim de Filologia, Lisboa, IX, 1948, p. 299-320. Percebendo-se já aqui algumas das principais linhas de força do seu pensamento histórico, elas encontram-se maximamente representadas na sua tese de doutoramento, a qual, primeiro sob a forma original de trabalho académico e depois publicada, é a obra mais imponente e com mais impacto que nos deixou. A introdução é “um modelo de como Cintra praticava o método filológico em estado natural, sem referência a teorias, nem apoio de técnicas de análise, para além de uma aturada observação dos factos, cujas conexões eram descobertas pela via da intuição e do bom senso” [Castro 1993: 154-155]. A ideia, assim apresentada, de que Cintra praticava o método filológico em estado natural permite compreender a alegação, feita pelo próprio Cintra, de que não teorizava. Com efeito, a sua afirmação desconcertante “Simplesmente, trabalhava sobre materiais e deixava-me conduzir por eles até onde me levavam” [org. Faria 1999: 27] pode fornecer dele uma imagem errada como investigador e dar uma impressão enganadora da filologia como modo de reflexão. Para acertar a imagem e a impressão, vale a pena lembrar as três perguntas formuladas por Wolfgang Mommsen a que o trabalho de Lindley Cintra responde afirmativamente: “a) Foram as fontes pertinentes utilizadas e o último estádio de investigação foi tomado em consideração? b) Até que ponto estes juízos históricos se aproximaram de uma integração óptima de todos os dados históricos possíveis?; c) Os modelos explícitos ou subjacentes de explicação são rigorosos, coerentes e não contraditórios?” [apud Le Goff 1984: 167]. |
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