| A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z | Estrangeiros | |||||||||||||
CINTRA, Luís Filipe Lindley | |||||||||||||
É curioso como em Cintra, que se revê como empirista, Celso Cunha vai encontrar o praticante inconsciente de um modelo que incorpora uma pluralidade de factores: a região onde foi elaborado o documento, o responsável material pela sua escrita, as correntes ortográficas disponíveis que condicionam a prática do notário ou escrivão [org. Faria 1999: 27]. A análise da grafia, auxiliada pela caracterização da escrita e das tintas, conduziu Cintra a uma série de conclusões que, segundo Ana Maria Martins, revolucionou “o estado dos conhecimentos sobre os mais antigos textos escritos em português” [org. Faria: 491]. Assim, num percurso paralelo ao de Avelino de J. Costa, o Auto de Partilhas (1192) e o Testamento de Elvira Sanches (1193) foram consideradas por ele cópias tardias, o que deu um novo protagonismo à chamada Notícia de Torto, documento do mosteiro do Vairão que, lado a lado com o Testamento de Afonso II, passou a ser tomado como o mais antigo documento redigido em Português [org. Faria 1999: 491]. No que diz respeito à periodologia da língua portuguesa, Cintra parece seguir com poucos desvios a compartimentação proposta por terceiros (Pilar Vásquez Cuesta e Maria Albertina Mendes da Luz, Gramática Portuguesa, vol. I, Madrid, 1971, p. 202). Um desses desvios consistia em não tomar a batalha de Aljubarrota (1385) como sinalizador do chamado período médio. Ciente, mais uma vez sem teorias, de que o tempo tem séries não-coincidentes em aspectos diferenciados da vida humana (e que, portanto, política e língua não evoluíam necessariamente a par), defendia nas aulas, como lembra Ivo Castro, que o período médio começava na geração seguinte à de Aljubarrota, “quando um padrão linguístico baseado nos dialectos do centro do reino começa a esboçar-se, quando uma prosa moderna começa a ser escrita pelos da Ínclita Geração e seus próximos” [org. Faria 1999: 368]. Note-se também, no terreno da história da língua portuguesa, o trabalho que escreveu sobre as formas de tratamento, a que historiadores como Vitorino Magalhães Godinho deram atenção. Consideradas as áreas em que Cintra teve intervenção maior (literatura historiográfica medieval, linguística românica e dialectologia), é no primeiro campo que se pode perceber o impacto maior. |
|||||||||||||