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CINTRA, Luís Filipe Lindley | |||||||||||||
A proficiência filológica de Cintra, que Mattoso diz aliada a “um sólido conhecimento do contexto e da factologia históricas” [org. Faria 1999: 580], também se manifestou noutros textos, como por exemplo nas versões da lenda de Ourique. Um estudo detido das redacções subsistentes da lenda levou-o a distinguir três etapas: primeiro, da data da batalha até ao final da primeira metade do séc. XV, vai sendo elaborado um relato de carácter tradicional que deixa marcas ou expressão desenvolvida nas crónicas gerais alfonsinas e em textos que delas decorrem; numa segunda etapa, a lenda passa por uma modificação profunda, protagonizada pelo episódio da aparição de Cristo, de que dá testemunho a Crónica de 1419, modelo de textos posteriores; a terceira etapa vê a lenda ser submetida a novas alterações e ganhar forma cristalizada pelos historiadores alcobacenses do séc. XVII. No domínio da documentação não-literária, que Cintra também explorou, produziu a tese de concurso para professor extraordinário sobre A Linguagem dos Foros de Castelo Rodrigo (publicada em 1959) e analisou documentação portuguesa do século XIII. A edição e estudo dos foros de Castelo Rodrigo interessam, enquanto publicação de fontes, a historiadores da língua, do direito e da cultura. Território pertencente ao reino de Leão até 1296, só na sequência do tratado de Alcanices, em 1297, é que ficou integrado em definitivo em Portugal – oportunidade para Cintra revisitar a proposta que Alexandre Herculano formulara, ao sugerir que Castelo Rodrigo tivesse sido colonizado com habitantes de aquém do Côa [apud Cintra 1984: XV]. O texto dos foros interessa a quem procure estudar um documento do falar vivo, mas é também detentor de indícios de como se processou o repovoamento na parte ocidental do reino de Leão [Cintra 1984: XIX]. Outra incursão na documentação não-literária por parte de Cintra – a recensão, classificação e análise ortográfica dos primitivos documentos escritos em português – revelou outro tipo de convocação da História. Os principais precursores de Cintra neste domínio tinham sido historiadores e paleógrafos, assim João Pedro Ribeiro e Pedro de Azevedo, e, enquanto colaborador do próprio Cintra, Rui de Azevedo. A importância do cruzamento do eixo sincrónico e do eixo diacrónico vê-se no cuidado de Cintra em agrupar os documentos por regiões (uma das manifestações da atenção que deu à geografia linguística) e por tipologias. |
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