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CINTRA, Luís Filipe Lindley | |||||||||||||
Para a verificação da resposta afirmativa a estas perguntas na obra maior de Cintra, constata-se uma preocupação de partida com a delimitação do corpus de trabalho, mas também um alargamento relacional. Na verdade, a transcrição rigorosa do códice da Academia das Ciências andou a par de uma selecção ampla do corpus, dada a percepção da natureza ibérica da família de textos com que lidava. Ainda antes da permanência em Madrid, onde realizou investigação para o doutoramento com uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, é de supor que os princípios da Gramática comparada das línguas românicas, ministrada por Harri Meier, lhe tenham inculcado o gesto da comparação como uma peça-chave na abordagem de um qualquer corpus textual. No caso específico da Crónica Geral, à comparação entre manuscritos castelhanos e portugueses seguiu-se o levantamento e anotação das variantes significativas. Foi a análise destas variantes que levou Cintra a tomar consciência da existência de erros de tradução do português nos manuscritos castelhanos, não havendo, simetricamente, erros de tradução do castelhano nos manuscritos portugueses (embora Cintra faça deste reconhecimento uma consequência da sorte, a verificação da existência dos erros em causa só é possível com sólidos conhecimentos de linguística histórica). A partir desta verificação gerou-se a hipótese de que a Segunda Crónica Geral fosse um texto originalmente redigido em língua portuguesa que tinha sido vertido para castelhano. Tratava-se, como Cintra veio a demonstrar, de uma refundição da Primeira Crónica Geral, mas redigida em português e depois traduzida em duas versões castelhanas independentes [org. Faria 1999: 40-41]. A intrincada questão das origens da historiografia peninsular teve por isso um contributo decisivo da parte de Cintra, que, além de resolver a questão da prioridade portuguesa ou castelhana no que diz respeito à Segunda Crónica Geral, atribuiu a autoria da sua compilação ao Conde D. Pedro, de Barcelos – também responsável pela compilação do Livro de Linhagens e do Cancioneiro trovadoresco antecedente do Cancioneiro da Ajuda – e renovou o conhecimento das fontes de vários textos de carácter historiográfico da Idade Média peninsular. O corpus de eleição estudado por Cintra permitiu uma reflexão prática aturada sobre conceitos de história textual como fonte, variante (e variante ampliada), testemunho, interpolação, refundição e, claro, texto, conceitos estes que assim ganharam uma densidade que raramente tinham tido até meados do séc. XX em Portugal. |
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