Enviado para cumprimento de pena no forte de Peniche, é colocado no piso superior do Pavilhão C, para onde eram enviados os presos considerados de maior perigosidade política. É aí que conhece e contacta com Álvaro Cunhal e outros dirigentes comunistas. Sob um regime prisional particularmente duro, aproveitavam o período de uma hora diária em que era tolerado algum contacto entre os presos, assim como a leitura de jornais. Para além disso, e com restrições, a direcção da cadeia autorizava a entrada de alguns livros, um a um necessariamente.

É neste quadro, por finais de 1957, que António Borges Coelho redescobre o interesse pela História. Lê as crónicas de Fernão Lopes, designadamente a de D. João I, com prefácio de António Sérgio; “História da Administração Pública em Portugal dos séculos XII a XV”, de Henrique Gama Barros; “História da Sociedade Portuguesa no século XV”, de António Costa Lobo ou “Descobrimentos Portugueses. Documentos para a sua História” de Silva Marques. Das leituras tomava abundantes notas e os livros circulavam depois por outros presos, estabelecendo-se discussão em torno dessas leituras. Álvaro Cunhal, por exemplo, transferido do isolamento da Penitenciária de Lisboa, trouxera consigo o manuscrito de “As Lutas de Classes em Portugal nos fins da Idade Média”, que Borges Coelho lera e discutira e que, na altura, tanto o influenciara. O interesse em torno da História desenvolvia-se naquele contexto difícil. Era uma espécie de grupo de estudos históricos a funcionar dentro da cadeia.

Quando se prepara a fuga de Peniche, que viria a ocorrer em Janeiro de 1960, Borges Coelho, convidado, aceita com a condição de retomar a sua vida – queria estudar, investigar – mesmo que no estrangeiro, recusando tornar-se funcionário clandestino do PCP. Viria a ser libertado só dois anos e meio depois, sofrendo o endurecimento prisional e o confisco dos seus apontamentos e escritos, que só podia consultar em condições dificílimas. Consigo traz, a custo, exigindo, esses papéis, que lhe permitirão tão rapidamente começar a publicar. Na verdade, havia já retomado o curso de Histórico-Filosóficas em 1961-62, ainda sob prisão, que prossegue nos anos seguintes, vindo a licenciar-se em 1967 com a tese Leibnitz, o homem, a teoria e a ciência. Nestes anos, enfrenta as dificuldades de obter um emprego estável e vive sobretudo como explicador, tradutor e também jornalista.

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