O rigor colocado no seu trabalho de historiador leva-o a ampliar o conceito de fonte histórica, a procurar no cruzamento dos documentos de diverso suporte, a clareza e a vivacidade da narrativa que constrói. Muito do evidente fascínio por Fernão Lopes radica justamente aí, como sustentou na polémica que travou a propósito da Revolução de 1383, bem como reflecte o enorme respeito por Alexandre Herculano.

António Borges Coelho tem querido ao longo do seu percurso como investigador e como professor desmontar muitos dos nossos grandes mitos históricos, como a da expansão enquanto cruzada contra o Islão ou o fervor das instituições eclesiásticas que invocavam a fé, mas, enriquecendo, espalhavam o terror e a morte, retardando o curso da modernidade. Como muitas vezes referiu, ao desmontar esses mitos evitou sempre repetir o que uma espécie de senso comum historiográfico tomava por adquirido e observou sobretudo para lá dos níveis de poder, para os que em baixo faziam, colectivamente, mover a História. O carácter problematizante, desafiador da imutabilidade das grandes sínteses, conferem-lhe a vibração da contestação, da polémica, que sempre o acompanhou, como reflexo da contradição que faz mover a vida e, nesse contexto, sempre tomou partido, assumindo que na cabeça do historiador não há o vácuo da esterilização absoluta, mas a tensão permanente entre o distanciamento e as emoções, o pulsar do coração do homem e do cidadão, como sempre se assumiu.

Bibliografia activa: Raízes da Expansão Portuguesa, lisboa, Prelo, 1964, 1973, 1976, 1979, 1985; A Revolução de 1383. Tentativa de caracterização, Lisboa, Portugália Editora, 1965, 1975, 1977, 1981, 1984; Alexandre Herculano, Lisboa, Editorial Presença, 1965; Leibnitz. O homem. A Teoria da Ciência, Lisboa, Horizonte, s.d. [1969]; Portugal na Espanha árabe, 4 vols, Lisboa, Seara Nova, 1972-75, 1989, 2008; Comunas ou Concelhos, Lisboa, Prelo, 1973, 1986; Questionar a História. Ensaios, Lisboa, Caminho, 1976; Quadros para uma viagem a Portugal no século XVI, Lisboa, Caminho, 1986; Inquisição de Évora. Dos Primórdios a 1668, Lisboa, Caminho, 1987, 2002; Clérigos, mercadores, judeus e fidalgos. Questionar a História II, Lisboa, Caminho, 1994; O tempo e os homens. Questionar a História III, Lisboa, Caminho, 1996; João de Barros. Vida e obra, Lisboa, Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa 1997; Cristãos-Novos, Judeus e os Novos Argonautas. Questionar a História IV, Caminho, Lisboa, 1998; Política, Dinheiro e Fé. Questionar a História V, Lisboa, Caminho, 2001; O Vice-Rei Dom João de Castro, Lisboa, Caminho, 2003; Ruas e Gentes na Lisboa Quinhentista, Lisboa, Caminho, 2007; A morte do Inquisidor-Geral. Questionar a História VI, Lisboa, Caminho, 2007; História de Portugal, vols. I a V, Lisboa, Caminho, 2010-15 (I Donde viemos. II. Portugal Medievo, III. Largada das Naus, IV.Na Esfera do Mundo, V.Os Filipes).

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