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Além do ambiente em que cresceu – e dos laços familiares com notáveis da intelectualidade – foram cruciais para a sua formação as viagens que ele fez. Os estudos secundários foram nos colégios Oswaldo Cruz, Ginásio da Madalena e Carneiro Leão, em Recife. Em complementação, a partir de uma bolsa de estudo do Instituto de Cultura Hispânica em 1955, frequentou cadeiras da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Madri. Pequena parte de sua estada na Espanha foi na casa de João Cabral de Melo Neto, que exercia função diplomática por lá. Quando a bolsa acabou, conseguiu com o pai mais um ano de estudos em Londres, onde teve contato com a obra de historiadores ingleses como Arnold Toynbee. A experiência na Europa fez com que ele visse a carreira diplomática como alternativa de profissionalização, o que representava seguir os mesmos passos do irmão mais velho. Para isso, em 1960, ingressou, via concurso, no curso de preparação à carreira diplomática do Instituto Rio Branco. Concluído o curso em 1962, ingressou em uma profissão que lhe deu estabilidade financeira e abriu diversas portas para atuar como pesquisador nas horas vagas, com acesso facilitado às bibliotecas e aos ricos arquivos públicos nos países por onde passou como diplomata, até se aposentar em 1995, no Rio de Janeiro. Evaldo Cabral de Mello, portanto, faz parte de uma seleta lista de brasileiros que exerceram função pública diplomática e foram historiadores, como Francisco Adolfo de Varnhagen, José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, o Joaquim Nabuco, sobre quem, mais tarde, iria dedicar estudos e organizar livro, Manoel de Oliveira Lima e o contemporâneo Alberto Vasconcellos da Costa e Silva. Com a nomeação ao cargo público de carreira diplomática em 1962, atuou na Divisão das Nações Unidas no Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), e foi assessor da Secretaria Geral de Política Exterior e oficial do gabinete ministerial, até 1964. Após o golpe que instaurou a ditadura civil-militar (1964-1985) no Brasil, e por não ter aproximação política com organizações de esquerda (ao contrário do irmão, João Cabral de Melo Neto, que temporariamente chegou a perder o emprego por ter relações com o Partido Comunista Brasileiro, uma década antes), exerceu postos de confiança como o de assessor do ministro do Planejamento, Roberto Oliveira Campos, até 1965. Saiu deste ministério para ser Segundo Secretário na Embaixada em Washington (EUA) por dois anos. Antes de deixar o Brasil, temeroso de que a capital norte-americana fosse entediante, adquiriu diversas obras historiográficas sobre a permanência dos holandeses na América portuguesa e sobre a guerra brasílica que resultou na restauração pernambucana. De Washington, partiu para Nova Iorque, para ocupar até 1970 o cargo de segundo secretário da Missão do Brasil junto à ONU. Neste ínterim, leu O Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo à época de Felipe II (1949), de Fernand Braudel. A obra, por certo, dentre outras coisas, inspirou Evaldo Cabral de Mello no esforço de ser visto como historiador não pertencente a alguma corrente teórico-metodológica: “Para quem se via acuado entre a historiografia convencional, a vulgata marxista e o sociologismo, a leitura de Braudel foi uma autêntica libertação. Ali estava finalmente um historiador que nem tinha o ranço de uma nem o reducionismo da outra nem o doutrinarismo da terceira; e que, munido dos instrumentos da erudição mais recente, era capaz, como os grandes historiadores do século 19, de dar corpo, alma e vida a largas fatias do passado” (Um imenso Portugal..., 2002, p. 302). |
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