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Dessa cada vez maior preocupação com a narrativa depreende-se a construção textual de Rubro Veio... (1986). Ainda fruto das descobertas intelectuais que fizera em Paris, tal obra foi concluída em Lima, Peru, quando trabalhou na Embaixada brasileira (1984-1986). Ao assumir de 1987 a 1991 o posto de Cônsul Geral do Brasil em Lisboa, Evaldo Cabral de Mello fez nova imersão aos arquivos, dentre eles, o da Torre do Tombo, pesquisa que foi fundamental para a escrita de O nome e o sangue... (1989). Nesta obra, ao abordar sobre uma falsificação genealógica que escondia a origem cristã-nova de uma de suas personagens, Cabral de Mello ilustrava aspectos importantes para se apreender sobre a mentalidade dos que viveram o Antigo Regime em Portugal e Espanha. Também nessa obra, o historiador deu pistas de como redigia seus livros e guardava documentos relevantes para se ater a eles com acuidade em um momento seguinte. Em O nome e o sangue, para exemplificar como um determinado cristão-novo aristocrata pouco foi incomodado pela Inquisição no Brasil, Evaldo Cabral de Mello citou que este personagem não foi chamado pelo Santo Ofício nem mesmo para falar sobre um escravo processado por blasfêmia. Somente alguns anos depois, o público de Evaldo Cabral de Mello viria a saber mais sobre as peripécias e resistências de “José, mulato, escravo de Fernão Soares”, protagonista do artigo Como manipular a inquisição para mudar de senhor (1992), ensaio que pode ilustrar o uso da micro-história por este pesquisador, a partir de estudos sobre um processo-crime. Evaldo Cabral de Mello não escapou de polêmicas historiográficas. Questionador das comemorações históricas, devido aos usos políticos do passado, foi um dos maiores críticos aos eventos em torno dos 200 anos da chegada de D. João VI ao Brasil. A tese de Evaldo Cabral de Mello é que a mudança da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro em 1808 não teve impacto significativo na unidade do Brasil, chocando-se com o pensamento de José Murilo de Carvalho (D. João VI e as histórias dos Brasis, 2008). Evento que, antes de tudo, significou mais e mais cobranças de impostos junto às províncias, especialmente sobre Pernambuco, sendo essa insatisfação um dos motivos da Revolução Pernambucana de 1817. Por isso, comemorar o bicentenário seria participar de uma “festa da espoliação” imposta a uma parte das províncias para sustentação do aparato burocrático da Corte (M. Hélio, A festa da espoliação, 2008). Contra a “visão saquarema” de que o Brasil estava fadado a uma unidade a partir do processo de Independência de 1822, a leitura de Evaldo Cabral vai no sentido oposto ao enfatizar o federalismo, o republicanismo e o sentimento nativista antilusitano, em oposição ao projeto de centralização que sairia vencedor, de D. Pedro I. A formação do império brasileiro, após a independência frente à Portugal, se daria com resistência, como ilustram os insatisfeitos da Confederação do Equador (1824). “O que deveria ter sido nossa revolução nacional, a Independência, foi, na realidade, uma contra-revolução comandada do Rio por um príncipe e empreitada por uma elite de altos funcionários públicos ameaçada na sua própria existência pelas cortes de Lisboa”, sustenta Evaldo Cabral de Mello (Um imenso Portugal, 2002, p. 171), em concordância com o defendido por Raymundo Faoro, em Os donos do poder (1958), no que se refere à influência da camada burocrática no processo de ruptura com o império português. Como se vê, a obra Um imenso Portugal (2002), que reúne principalmente artigos que publicara no jornal Folha de São Paulo a partir do ano 2000, traz argumentos desenvolvidos em A ferida de Narciso – ensaio de história regional (2001) e outros que iria desenvolver em A outra independência – o federalismo pernambucano de 1817 a 1824 (2004), que seria um acerto de contas do historiador com a historiografia saquarema. Outros temas também abordados em Um imenso Portugal seriam aprofundados em outras obras como Nassau, governador do Brasil holandês (2006); O Brasil holandês (1630-1654), de2010, O bagaço da cana – os engenhos de açúcar do Brasil holandês (2012) e A educação pela guerra – Leituras cruzadas da história colonial (2014). |
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