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A influência da historiografia francesa se deu com leituras essenciais dos Annales e através do contato direto com alguns de seus expressivos nomes, em sala de aula. No início dos anos 1980, ao aproveitar o período em que foi Ministro Conselheiro da Embaixada do Brasil em Paris (1979-1984) para investir em sua formação de pesquisador, inscreveu-se em cursos livres no Collège de France e com isso frequentou aulas de Georges Duby e Emmanuel Le Roy Ladurie. Com o primeiro, por exemplo, diz ter aprendido o conceito de imaginário em história (in Três vezes Brasil, op. cit, p. 143). No entanto, Evaldo Cabral de Mello sempre reivindica a importância da historiografia inglesa em seu fazer historiográfico: “A despeito da alta qualidade da historiografia francesa atual, há que se ter o pé atrás relativamente às propensões às vezes talvez demasiado teorizantes dos franceses. Como antídoto, nada como a leitura de um bom historiador inglês, tipo John H. Elliott ou Charles Boxer, pois os ingleses têm uma vocação empiricista que está mais próxima do ofício de historiar, pois, no fundo, queira ou não, o historiador é um nominalista que muitas vezes não ousa admitir seu nominalismo, e não um produtor de grandes teorias explicativas do passado, como frequentemente se exige dele” (E.C de Mello, In T.C.P. Miranda, Conversas do Recife, em Lisboa, 1990, p. 142). Evaldo Cabral de Mello sempre tentou fugir de rótulos e afirmou não gostar de “ismos” da moda, mas na entrevista acima, uma das primeiras concedidas sobre seu fazer historiográfico, quando ocupava a função de Cônsul-Geral do Brasil em Lisboa, não se esquivou do exercício de autodefinição: “O historiador é o sabotador nato do sociólogo, do antropólogo, do economista (...). Se eu tivesse que me definir epistemologicamente, usaria a fórmula, hoje completamente esquecida e fora de moda, criada por Georges Gurvitch nos anos cinquenta: a de ‘hiper-empirismo dialético’” (Idem, p. 142). Desconfiado quanto ao uso da interdisciplinaridade no historiar, ao tomar posse na cadeira nº 34 da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 2015, Evaldo Cabral de Mello questionou se “o próprio êxito da cooperação entre a história e as ciências humanas incita a indagar se ela não se teria transformado em orgia. A despeito do enriquecimento da explicação e da compreensão históricas, a colaboração interdisciplinar pode acarretar efeitos colaterais quando praticada sem espírito suficientemente crítico. A diferença entre a história e as ciências humanas é inclusive de recursos expressivos, ou de retórica, para empregar no bom sentido o termo nobre que o uso prolongado perverteu. Registros fundamentais da experiência humana, a narratividade e a diacronia constituem o núcleo irredutível do discurso historiográfico. Por maior que venha a ser o progresso das ciências humanas, sempre haverá a necessidade incoercível de tratar o passado em função do que se passou e não em função de leis ou de teorias gerais ou de grandes conceitos teóricos” (Discurso de posse, 2015). Depois de Olinda restaurada, o livro mais analítico do autor, Evaldo Cabral de Mello lançou em 1984 O Norte agrário e o Império (1871-1889), quando a partir de então nota-se uma maior preocupação do autor com a narrativa. No percurso de historiar, e a partir da síntese que fez da leitura das historiografias francesa e inglesa, Cabral de Mello defendeu que, apesar do estatuto científico da história, ela também é um gênero literário, e que o historiador deveria se preocupar em atingir outros públicos que não o pertencente ao mundo acadêmico ou de especialistas. |
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