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ALMEIDA, Fortunato de | |||||||||||||
Em primeiro lugar, permitem situá-lo no quadro da que tem sido chamada historiografia erudita, seguindo na peugada de Gama Barros, cujo trabalho apreciava e que veio a ser alvo da sua atenção em Gama Barros e a História da Administração Pública em Portugal (1921). A preocupação de rigor centrava-se no «exato conhecimento dos factos» que deveriam subtrair à «fantasia» do historiador a dedução das «circunstâncias históricas», como pode ler-se no prefácio à HIP. A positividade do suporte documental, que o aproximava de Herculano – a quem consagrou uma conferência proferida e publicada em 1910 –, seria a tarefa essencial do trabalho historiográfico, o que se afigura consistente com o trabalho que levou a cabo nessa obra. As suas circunstâncias, porém, afastavam-no da incidência arquivística desenvolvida pela investigação de Gama Barros, do que tinha plena consciência. No prefácio citado esclarece, com clareza, que lançou mão, sobretudo, de bibliografia publicada, coligindo materiais «dispersos em centenas de volumes». Empreender uma obra desta dimensão, compaginando-a com as tarefas letivas, seria incompatível com um trabalho extenso de identificação, análise e tratamento de fontes primárias de arquivo, que nesta obra se limitou «a determinadas épocas e assuntos». Tenha-se em conta, também, que a produção da obra correspondeu a um período de dispersão da documentação entre os arquivos civis e eclesiásticos, o que só aumentaria a dificuldade assinalada. Além disso, considerava que uma obra desse cariz excedia «as forças de um só homem». Na sua ótica, a HIP correspondia ao «primeiro passo» de delinear a «traça do edifício» que teria de ser acabado com o contributo dos «muitos» que carreassem materiais para a sua construção. É muito questionável, para dizer o mínimo, a sua afirmação acerca do trabalho de «coordenação» dos materiais já publicados em diversas coleções e que, «procurados com diligência e aproveitados criteriosamente», poderiam chegar para a «formação completa e talvez definitiva de muitas páginas da história eclesiástica de Portugal», posição que se compreende dada a sua minimização da tarefa especificamente hermenêutica do trabalho historiográfico. Assim, a obra prima pelo esforço de rigor no estabelecimento dos factos. Essa preocupação estendeu-se para lá de completada a publicação da obra, como dão conta as atualizações que, em face de nova bibliografia entretanto surgida, se preparava para fazer na segunda edição da obra. Algumas dessas alterações estão incorporadas e assinaladas na edição de 1967, a que hoje é mais facilmente acessível e citada, preparada por Damião Peres a partir do exemplar anotado da 1.ª edição pertencente ao próprio Fortunato de Almeida. Em segundo lugar, a HIP mostra o cuidado didático na sistematização das matérias e na sua apresentação. Por fim, a sua organização interna é devedora da perspetiva coeva que, do fenómeno religioso, valorizava, sobretudo, a sua dimensão institucional. Essa característica é reforçada pela periodização que segue o desfiar cronológico dos reinados, que não seria alheia a tentativa de destacar o relevo que a Igreja Católica teria tido na evolução histórica de Portugal. Embora não sejam estranhas à tarefa de escrever a HIP a sua militância católica e as sociabilidades dela devedoras que terão contribuído decisivamente para a construção da sua mundividência, a obra resultou dos «conselhos e incitamentos» de um dos seus mais «queridos e ilustres mestres», José Joaquim Lopes Praça, o que terá ocorrido «mal [...] saía dos bancos da Universidade». |
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