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ALMEIDA, Fortunato de | |||||||||||||
Todavia, a funcionalidade didática dessa opção, aliada à persistência da visão tradicional sobre a singularidade dos Grandes Homens, poderá ter contribuído para a longevidade da sua HP. A isso acresce uma certa perspetiva sobre o percurso da Nação, combinando uma suposta grandeza com uma presumida decadência resultante de influências desnacionalizadoras que continua a ter alguma adesão intelectual. A este propósito, são eloquentes as palavras de Caetano Beirão, para quem a obra era fruto de um trabalho «consciencioso, calmo, objetivo, documentado, se bem que por vezes excessivamente superficial», o que contrastaria com as obras de anteriores, que vertiam uma «história deturpada e afeita ao seu idealismo bastardo, às suas conveniências políticas», tanto pela «democracia azul-e-branca, primeiro», quanto pela «democracia verde-e-encarnada, depois». Assim, resultava numa «História para ensinar os portugueses a ser portugueses». O mesmo Beirão, no entanto, aproximava-a das obras de Pinheiro Chagas, Sousa Monteiro e Latino Coelho, «sem o estilo mágico dum Oliveira Martins», dizendo-a toldada pela «paixão política» por não caucionar a reivindicação da legitimidade dinástica de D. Miguel. Estava, assim, distante do nacionalismo dos integralistas, que teve também em António Sardinha, um crítico contundente da obra, considerando-a de exagerada erudição e ressumando superficialidade analítica. Em sentido contrário, poderá ser apreciada pelo carácter sintético, condensando informação detalhada, servida por narrativa pormenorizada e sistematização cuidada de ampla recolha bibliográfica, com frequentes citações, não raras vezes extensas, das fontes que usa, secundarizando a atividade interpretativa do historiador, como se o texto citado tudo dissesse. A exigência de suporte documental conduziu-o, como no caso da Escola de Sagres, a uma evolução na sua historiografia, discernindo lendas de factos, rejeitando alguns dos elementos que reforçavam a tradicional leitura providencialista da história do país, como o milagre de Ourique. Ainda assim, a leitura sobre o percurso da nação não resulta desprovida de elementos essencialistas, combinados com uma perspetiva decadentista resultante das influências externas que contaminariam a índole da pátria. Tal resulta claro na avaliação de alguns episódios, como no caso de algumas das reformas religiosas empreendidas pelos sectores liberais mais radicais, atribuídas à influência da Maçonaria e ao «espírito jacobino» que teria sido «importado» de França. A HP constituiu o culminar do percurso intelectual feito por Fortunato de Almeida nas décadas anteriores, um apreciável esforço de síntese do intenso trabalho de recolha bibliográfica entretanto realizado, preparado pelo referido manual de 1899 e o Esboço de História de Portugal: com episódios, biografias e tradições que saiu em 1920, escassos dois anos antes do início da obra em apreço. Para lá da Academia das Ciências e da Sociedade de Geografia de Lisboa, foi membro efetivo do Instituto de Coimbra desde 1896. Nessa instituição foi, por diversas vezes, Secretário da classe de Literatura, Belas Letras e Artes entre 1910 e 1923, tendo integrado a Comissão de redação especial da Revista O Instituto, a partir de 1924. Participou ativamente na Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos lançada por Fidelino de Figueiredo, publicando na Revista de História alguns dos estudos conexos à elaboração das suas duas obras maiores, como A Questão do Apresamento da Barca «Charles et George» e o Conselho de Estado (1917), Subsídios para a História Económica de Portugal (1920) – uma apreciação da política pombalina nesse âmbito. Foi agraciado com a condecoração «Pro Ecclesia et Pontifice», a mais alta condecoração que a Santa Sé atribui a um leigo. |
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