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RODRIGUES, José Maria | |||||||||||||
Simbólico galardão, JMR havia tido já, em 1925, o privilégio de inaugurar a cadeira de Estudos Camonianos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (e manteria essa regência, depois de jubilado). Era como a conversão e a consagração dos cursos livres que vinha oferecendo. E, embora asseverasse que a cátedra parecia destinada a Carolina Michaëlis de Vasconcelos, tratou de acentuar a distância que da “Mestra” o separava. Prefaciando A intercultura de Portugal e Espanha no passado e no futuro. Conferência plenária [de Ricardo Jorge](1921), a “ilustre professora” aplaudira os que, ao apurarem “factos, substituem lendas fantasiosas e interpretações arbitrárias por história documentada” (p. XV); “hispanófila” (p. XIV), repudiava a “acanhada desconfiança com que muitos desejariam fechar as fronteiras, para evitar infiltrações estrangeiras, com medo de que elas pudessem desnacionalizar a literatura” (p. XXXIV). Limitar-se-ia a visar Teófilo Braga? Nos antípodas, a “Lição inaugural da Cadeira de Estudos Camonianos” era a afirmação de um JMR determinado a “averiguar” os amores de Camões (p. 90) e a protestar: “Camões é, da primeira até à última estância do seu poema, o cantor da pátria portuguesa, o cantor dos Lusíadas, e não o dos Iberos, dos Hispanos. Os Lusíadas são única e exclusivamente a Bíblia política portuguesa.” (1927, p. 79). De seus pares, JMR não costuma tecer extensos encómios. Sim, compraz-se em saudar figuras como Afrânio Peixoto ou Francisco Rodríguez Marín. Na “Lição inaugural”, rende “o preito da [sua] ilimitada admiração” a Carolina Michaëlis e, sem rasurar dissensões, evoca Teófilo Braga e Epifânio Dias como “dois notáveis mestres” (1927, p. 68). Em artigos in memoriam, elogia Luciano Pereira da Silva (1927) e volta a louvar Carolina Michaëlis, mas é sintomática a orientação deste texto (“D. Carolina Michaëlis e os Estudos Camonianos”, 1927). JMR divide-se, por um lado, entre o anseio de ter a seu favor a autoridade da prestigiadíssima filóloga, e, por outro lado, uma crispação que não logra ou não quer dissimular nas menções aos “camonistas estrangeiros” (maxime, Wilhelm Storck) que, “para vergonha nossa”, vêm apontar na obra de Camões “erros crassos” (p. 47), cometidos na sua transmissão: “Foi da Alemanha – é pouco airoso para nós termos de o confessar, mas assim o exige a justiça – foi da Alemanha que partiu a reacção contra esta incrível falta de senso crítico.” (p. 53). Se tivesse ocorrido mais cedo, talvez a entrada em cena de Afonso Lopes Vieira conseguisse atenuar clivagens e aproximar JMR e Carolina Michaëlis. Nesse apoiante do Integralismo Lusitano ganhou JMR, a partir de meados da década de 20, um “prestimoso colaborador”. A época seria agitada, pois não faltaram críticos – alguns, ávidos de polémica, como A. Sousa Gomes, obstinado na identificação açoriana da Ilha dos Amores (Hernâni Cidade, “Estudos Camonianos. A última polémica do Prof. José Maria Rodrigues”). |
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