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RODRIGUES, José Maria | |||||||||||||
JMR não fugia de contendas. Nem abdicava do “sagrado direito de defesa” (A Faculdade de Theologia […], 1886, p. 9) nem prescindia de “ser o último a falar”, sabendo que esse pode ser o “critério definitivo da vitória” (“Episódios da «Questão da Sebenta»”, 1934, p. 9). Em Coimbra, em 1882-1883 atrevera-se a um duelo verbal com Camilo, que (contra-atacando o Dr. Avelino César Calisto, pelos remoques que a sua Sebenta de Direito Eclesiástico Português endereçava ao Perfil do Marquês de Pombal) beliscara a noção da infalibilidade do Papa. Recém-doutor, em 1889, perseveraria na contestação movida em A Faculdade de Theologia e As Doutrinas que Ella Ensina: além d’ A Sagrada Congregação do Concílio (obra condenada pelo Santo Ofício romano), lançou A Verdade. Publicação Periodica de que era o único redactor e que, nos seus dois efémeros números, assestava baterias contra a alegada intromissão do Bispo-Conde, D. Manuel de Bastos Pina, na Academia. Advogava JMR: essa superintendência competia ao Estado. Após décadas de relativa paz, a veia combativa ressurgiu (mera coincidência?) com a sua jubilação. É verosímil que por iniciativa do Autor fossem publicados os Autos de investigação requerida pelo Reverendíssimo Dr. José Maria Rodrigues (1928) – um folheto de vinte e duas páginas, limpando a mácula espalhada por António Cabreira, que fizera soar no jornal Os Ridículos suspeitas de que “um certo padre, muito conhecido pela sua erudição, de feitio muito solene” (p. 4), era maçon. Quase queirosiano – quase mais um episódio da vida romântica –, o caso denuncia o carácter contraditório de uma sociedade que tão rapidamente exibe tensões como, em face da Igreja ou de uma instância disciplinadora, recupera a aparência da concórdia. Com efeito, tudo se esfuma em retractações: seria um mal-entendido, no rescaldo de debates a propósito do Milagre de Ourique; era o resto de “rixas académicas que provocaram um certo azedume” (Autos…, p. 13). De entre as discussões travadas no espaço público, com eco em jornais e revistas, duas avultam. Ao desafio protagonizado por Gago Coutinho, que numa sessão da Academia das Ciências refutara leituras veiculadas na “Edição Nacional” d’Os Lusíadas (1928), JMR contrapôs “A dupla rota de Vasco da Gama em «Os Lusíadas», V, 4-13, e as objecções do Sr. Almirante Gago Coutinho” (1929). Depois, em réplicas sucessivas, durante cinco anos, assistir-se-ia a um braço-de-ferro. Sem alterar argumentos, JMR impacientava-se e, defendendo “Pela quarta vez a dupla rota de Vasco da Gama em «Os Lusíadas»” (1932), ironizava: “Quando escrever o meu opúsculo Pela decima quinta vez a dupla rota de Vasco da Gama em Os Lusíadas, ainda me hei-de ver obrigado a repetir ao sr. Almirante o que agora digo pela terceira vez” (p. 18). O cálculo pecou por excesso, mas o despique cresceu até “Pela sexta vez, a dupla rota de Vasco da Gama em «Os Lusíadas», V, 4-13” (1934). |
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