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RODRIGUES, José Maria | |||||||||||||
De acordo com JMR, será detectável n’Os Lusíadas um processo de contaminação: ao narrar o princípio da viagem do Gama, Camões ora sugere a rota indicada na historiografia quinhentista (Lisboa, leste das Canárias, Santiago), ora uma alternativa afeiçoada ao que empiricamente testemunhara (Lisboa, Madeira, Cabo Verde). À pergunta “Como é que o Poeta atribue a Vasco da Gama o que se passou consigo próprio?” (“A dupla rota de Vasco da Gama em «Os Lusíadas», V, 4-13 […]”, 1929, p. 15), JMR, apoiado quer em textos cronísticos e em roteiros, quer na análise dos versos épicos, responde: “O que não seria permitido a um historiador, pôde Camões fazê-lo como Poeta.” (p. 20). Esta destrinça aristotélica do campo e dos códigos do poeta e do historiador, peremptória a respeito da épica, JMR apagava-a ao ocupar-se da lírica, em cuja “realidade” piamente acreditou. Com base nesse credo, partilhado, aliás, por coevos como Teófilo Braga ou Wilhelm Storck, poesia era sinónimo de “documento autobiográfico”, e “ter a chave da vida amorosa de Camões” seria ter “a da exegese da maior parte das suas rimas” (“D. Carolina Michaëlis e os Estudos Camonianos”, 1927, p. 56). Equacionando assim a sua leitura, JMR montou uma “tese” obsessiva, propalada em “Camões e a Infanta D. Maria” (“A ardente paixão do tresloucado poeta pela formosa, instruída e sisuda filha do Rei venturoso constitue, como a priori se pode presumir, o ponto culminante da sua atormentada vida.” – 1910, p. 5); uma “tese” reiterada até quando novos elementos, respigados em velhos manuscritos, a perturbavam. Como conciliar o Camões de altos amores com o de cartas que o revelavam “cronista de espancamentos” e “historiador dos feitos das criaturas que êle próprio chama «ninfas de água doce» e «damas de aluguer»”? (“Comentário da carta inédita”, 1925, p. 151). Efabulando quedas e redenções, crimes e castigos, JMR recusa-se a desistir da “tese da Infanta”, que alastra por quanto escreve, seja o texto enviado para a Exposição Portuguesa em Sevilha (1929), seja o capítulo da História da Literatura Portuguesa Ilustrada, de Albino Forjaz Sampaio (1930), sejam pequenos artigos que prometem, alvissareiros, o desenrolar de uma novela: “Camões. A crise amorosa de Ceuta e as suas consequências” (1930), “O exílio de Camões para as Molucas” (1934) ou “Camões: As suas declarações de amor à Infanta D. Maria e as conseqüências que daí lhe advieram” (1938). |
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