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AMEAL, João [João Francisco de Barbosa Azevedo de Sande Aires de Campos] | |||||||||||||
Nestes aspetos, a História de Portugal de João Ameal é, em larga medida, um projeto revisionista, na linha, mais uma vez, do tradicionalismo integralista do seu período formativo – algo que, de resto, assume. Em 1945, referindo-se ao projeto de revisão histórica de Sardinha, escreve: "Numerosas são as figuras que limpa de mil sombras ou calúnias, para lhes restituir o verídico e puro esplendor. Numerosos também os ídolos postiços, levantados na praça pública, que despe de mentirosos adornos, amarra ao pelourinho, onde, desde então, ficam — atira (como na famosa apóstrofe do tribuno) 'para as galés da História'. Simultaneamente, ou na esteira de Sardinha, muitos investigadores de mérito dedicaram-se à esplendida tarefa de restauração da verdade histórica." (Europa e os seus fantasmas, 1945 p. 242). A este respeito, Luís Reis Torgal escreve inclusive que na História de Portugal de Ameal, há um verdadeiro “zelo revisionista” e que este, mais do que um historiador teria sido “um divulgador, […] no sentido em que os métodos de comunicação superam de longe o conhecimento rigoroso [foi] o divulgador próprio do tempo em que a história (também) estava ao serviço do regime […] João Ameal foi o autêntico ‘historiador do regime’”. Algo que, aliás, lhe é apontado por intelectuais seus contemporâneos ainda durante o Estado Novo – como Victor de Sá que, em 1961 (História e Actualidade), o compara aos cronistas da corte régia. De uma forma mais ampla, João Ameal replicará parte destas ideias nas reflexões que, a partir de 1945, fará sobre a “civilização europeia” – no livro Europa e os seus fantasmas (1945), em diversas conferências, na cadeira de “A Ideia de Europa” que lecionará no ISCSPU na década de 1960 e, em especial, na sua História da Europa (1960). Nesta última, o iluminismo, a Revolução Francesa, o liberalismo, o comunismo são, também eles, “momentos estáticos” de um longo percurso civilizacional que tinha como base a “experiência heleno-latino-germano-cristã“ (“O Ocidente e Portugal”, pp. 188 e segs.) espalhada pelo mundo a partir do século XVI. E, neste sentido em particular, a sua História da Europa é vista de um ponto de vista que poderíamos dizer “português”, no sentido em que Portugal é visto como um dos principais agentes dessa disseminação dos valores civilizacionais europeus, pioneiro no “ensinamento do Ocidente a todos os homens e povos” (IDEM, p. 193). Tal como para a História de Portugal, os desafios vêm dos perigos externos que Ameal via ameaçar a Europa (neste caso, a “plutocracia americana” e a “tecnocracia eslava” – Europa e os seus fantasmas, 1945, p. 274). Era preciso, pois, resgatar os valores do Ocidente, que permaneciam subjacentes apesar da dialética do pós-guerra: “o homem de hoje é o mesmo homem, cuja defesa, cuja protecção, cuja libertação se tornam mais prementes ainda.” (“O Ocidente e Portugal”, p. 193). E, fazendo a ponte com aquela que era a argumentação do Estado Novo no que dizia respeito aos seus territórios coloniais, a capacidade de diálogo com o outro que entrevia em Portugal desde a Expansão até à atualidade, prefiguraria uma espécie de modelo a seguir para a defesa dos valores ocidentais: “Geramos assim, pela Terra adiante, outros Portugais – comunidades fraternas entre raças diferentes. […] Não há exagero em dizer que se criam igualmente novos centros de gravidade do Ocidente nas nossas províncias de África, tão cheias de promessas – e no enorme Brasil, a nós ligado na fraterna comunidade instituída pelos dois governos.” (IDEM, p. 188). |
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