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AMEAL, João [João Francisco de Barbosa Azevedo de Sande Aires de Campos] | |||||||||||||
Não obstante esta perspetiva de necessidade de reposicionamento da visão histórica, as reflexões que ao longo da vida vai fazendo relativamente ao ofício do historiador mostram uma preocupação teórica constante com questões de hermenêutica e de validade das fontes. Ameal refere, de resto, em diferentes momentos, a dificuldade de distanciamento e de uma total imparcialidade: “A obra histórica ressente-se, não pode deixar de se ressentir, da formação do pensamento, até do temperamento do historiador […]. A História não é uma ciência pura, visto que a sua personagem central é o homem – ser autónomo, dotado de livre arbítrio – a História é tão imprevisível como os atos, as decisões as reacções do próprio homem.” (Porque escrevi…, p. 34). Mas destaca também a importância da erudição (tão cara ao pensamento intelectual tradicionalista), quando afirma ser o historiador diferente do investigador: para Ameal, a ligação dos factos (“verdade histórica, a primeira de todas – aquela que a torna, no perfeito rigor do termo, história”) necessita do “raciocínio subjetivo do historiador para extrair, das pontas soltas e inertes dos documentos, analogias novas’” (IDEM,pp. 34.37). João Ameal encara, de resto, a História de uma forma axiomática: enquanto Ciência, na base (recolha e seleção de materiais); Arte, na disposição desses materiais; e Ética (“orientadora, educadora, somatório de experiências”) (IDEM, pp. 38-39). Integrando, no entanto, estas ideias numa perspetiva de certa forma mais restrita e funcionalista: para o historiador, a verdade é uma só; e desde que se aproximem factos, se pesem probabilidades, se raciocine com lealdade e método, é legítimo chegar a uma conclusão: “Se a imparcialidade total e absoluta parece inacessível, nem por isso se dispensam uma honestidade total e absoluta na consulta das fontes, no rigor das deduções e na interpretação dos documentos. Tudo isto constitui garantia bastante de idoneidade e da credibilidade do historiador.” (IDEM, p. 41). Para Ameal, a subjetividade historiográfica ultrapassar-se-ia confrontando as fontes, de forma a chegar à atrás referida “verdade histórica”. Verdade essa que, no seu caso, teria subjacente a preocupação da aprendizagem da trajetória da História de Portugal enquanto sequência moral: a ideia retrospetiva de nação como grande família, sempre solidária e renovada de geração para geração, tendo como o fio condutor o “serviço de Deus e [a] vontade de império” (No Limiar… pp. 38-39). No fundo, as preocupações que enunciara nos seus primeiros trabalhos, mesmo que matizadas, mantêm-se: como referira Chateaubriand (que Ameal, aliás, cita em mais do que um dos seus textos), “O homem moderno é um viajante que se perde na estrada; tem de regressar ao ponto de partida, se quiser lembrar-se de onde vem, se quiser saber para onde vai.” |
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