Nasceu em Castelo de Vide, de origens humildes, filho de Possidónio Mateus Laranjo e Maria José Correxana. Seguiu estudos eclesiásticos, cedo abandonados. Ingressou depois na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde se doutorou e fez carreira académica. Lecionou várias cadeiras, tendo-se notabilizado na docência de Economia Política e de Direito Constitucional. A sua atividade académica foi todavia entrecortada pela política, sendo largos anos deputado da nação pelo partido progressista e depois par do reino. Integrou várias comissões parlamentares, nomeadamente as relativas a matérias bancárias, mas nunca desempenhou funções governativas. Membro de diversas sociedades científicas, nacionais e estrangeiras, manteve também uma duradoura colaboração na imprensa, bem como um expresso empenho na promoção do cooperativismo e da instrução popular. Foi persistente a sua vinculação às formas de vida locais e regionais, tendo aliás promovido na universidade a elaboração de estudos de história local (cf. A.Ventura, José Frederico Laranjo (1846-1910), 1996 e J.C.Graça, As Ideias Económicas…, 2002).

A propósito da querela relativa ao princípio do direito, que em Coimbra ocorreu entre os lentes Rodrigues de Brito e Vicente Ferrer Neto Paiva, Laranjo intervém (1871) defendendo o princípio proposto por Kant, o neminem laedere ou “não lesar ninguém”. Argumenta ser possível, mantendo a fórmula kantiana como critério do direito, completá-la com o sistema de Brito, dito da mutualidade de serviços, o que constituiria o seu conteúdo. Dentro desta linha de pensamento, conduzindo de Kant ao socialismo, refere-se de forma elogiosa também a Fichte e aos chamados socialistas utópicos. Do sistema de Fourier declara taxativamente na tese latina (These ex Universo Jure quas (…), 1877, p.17) que o acha defensável em tudo, exceto no respeitante às considerações sobre a família. Esse marco indicador do direito aponta também o futuro previsível da espécie humana, dado que a história desta traduz a aproximação sucessiva do ser ao “dever ser”. A humanidade realiza-se historicamente, cumulativamente, de acordo com uma trajetória que corresponde a um verdadeiro progresso, expressão da sua característica definidora: a perfectibilidade. Subscreve também, neste contexto: a tese de que a história, partindo duma indivisão inicial, e através duma fase subsequente de diferenciação e conflito, conduz num terceiro momento a uma nova e mais complexa forma de unidade e de coerência; a noção de que esse processo, primeiro inconsciente, se transforma depois num outro, consciente, no qual sujeito e objeto se confundem e do qual a própria filosofia da história constituiria a epítome. Recolheu declaradamente estes elementos das obras de Saint-Simon, Hegel e respectivos discípulos.

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