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MARQUES, António Henrique Rodrigo de Oliveira S. Pedro do Estoril, 1933 – Lisboa, 2007 |
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A sua extensa obra, traduzida em seis dezenas de livros e um milhar de artigos, cinde-se, basicamente, em dois arcos cronológicos, a medievalidade e a contemporaneidade, talvez mais conhecida e reconhecida a primeira que a segunda, ainda que ambas muito inovadoras. Nela se espelha sempre a sua conceptualização da História como uma ciência, com as características das ciências sociais e humanas, assente metodologicamente numa vastíssima informação histórica, sujeita a uma apertada crítica, que sustenta uma interpretação arguta e perspicaz e aporta conhecimento novo, plasmada numa obra ponderadamente estruturada e vertida numa escrita em que se entrecruza o rigor do discurso histórico com uma linguagem literariamente envolvente. Em 1959 e ao longo da sua auspiciosa década de 60 do século XX publicam-se as obras seminais sobre a época medieval que se viram continuamente reproduzidas. A Sociedade Medieval Portuguesa. Aspectos da vida quotidiana, saída em 1962, teve seis edições (a última de 2010) e foi traduzida para inglês. Desenhando-nos o quotidiano do homem medieval, no seu ritmo de trabalho, nas condições de habitabilidade, nos cuidados do seu corpo, na higiene e saúde, nas suas necessidades e representações de vestuário e da mesa, no seu intimismo de afectos e crenças, na sua cultura e lazer e na sua atitude perante a morte, é um livro demasiado avançado na historiografia portuguesa do seu tempo, em que mal começava a esboçar-se a novidade de uma história económica e social. Será apenas na década de 80, sob o impacto da nova história que se abre às mentalidades, aos comportamentos, à religiosidade e aos sentimentos dos homens, que esta obra se torna “uma Bíblia”, como já escrevi, um referente, repetidamente lido e citado. Do mesmo modo a sua dissertação de concurso Introdução à História da Agricultura: a questão cerealífera na Idade Média, com três edições (1962, 1968, 1978), inspirará as novas gerações das décadas de 80 e 90, que impõem a temática da história rural na historiografia medieval portuguesa e no ensino universitário. A sua tese de doutoramento Hansa e Portugal na Idade Média (edição de 1959), que nos coloca perante o quadro das navegações e do comércio dos portugueses no Atlântico, ficou bastante esquecida até à segunda edição corrigida e aumentada de 1993, tendo sido por largas décadas um dos trabalhos científicos de maior fôlego no âmbito dos intercâmbios mercantis portugueses na época medieval. As relações luso-alemãs, das comerciais às culturais, continuaram posteriormente a ser alvo dos seus estudos, particularizando as navegações e relações comerciais com a Prússia e aspectos da feitoria da Flandres no século XV, os preços e câmbios em Hamburgo no século XVI, os contactos entre Portugal e a Alemanha no século XVI, as relações de Damião de Góis com os mercadores de Danzig, os impressores alemães em Portugal em finais de Quatrocentos e a documentação sobre Portugal em arquivos hanseáticos alemães, sendo alguns desse trabalhos publicados no livro Portugal Quinhentista (1987). E ultrapassando os séculos medievais e modernos prolongou mesmo a análise dos intercâmbios políticos, diplomáticos e culturais luso-germânicos até ao século XX (Thomas Denk, Na Jubilação Universitária…, 2003, pp. 79-99). |
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