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RIBEIRO, Orlando da Cunha | |||||||||||||
Por acaso, foi também a partir de1960 que eu própria, jovem geógrafa francesa, comecei a descobrir e percorrer Portugal na companhia de Orlando Ribeiro e, tendo casado com ele em 1965, a colaborar regularmente nas actividades do CEG-UL. A formação recebida em Paris, no fim da guerra, foi-me dada pelos discípulos directos dos Mestres que Orlando Ribeiro tinha conhecido nas vésperas do conflito. Adquirimos, portanto, formações muito semelhantes, sendo apenas a minha enriquecida pelo brusco progresso técnico resultante da larga e livre difusão das fotografias aéreas americanas, a qual permitiu que, pela primeira vez, o Homem conseguisse uma visão geral detalhada do relevo e da ocupação humana do Globo, provocando assim um rapidíssimo progresso da sua Cartografia. Mas, nesta altura, Orlando Ribeiro já tinha conseguido, por conta própria, situar Portugal no Mundo, graças às suas sucessivas viagens: ao longo do Atlântico e na África desde1935, em Espanha e através do Mundo Mediterrâneo a partir de 1946, na América em 1952 e na India em 1956. Em 1973, divulgamos a nossa visão geral do Globo num manual de nível universitário, que tratava de La Zone Intertropicale Humide, esta vastíssima faixa, alternadamente oceânica e continental, regularmente iluminada e aquecida pelo Sol, e que divide o Globo em dois hemisférios de fisionomias tão diferentes. Depois desta larga introdução, consagrada aos anos de formação de Orlando Ribeiro e às suas primeiras e importantes realizações, tanto organizativas como científicas, convém colocar o delicado problema da especificidade da sua orientação intelectual e profissional. Terá sido Orlando Ribeiro um puro Geógrafo? Em que medida terá ele sido também um Historiador? um Etnólogo? ou, para usar uma palavra mais abrangente, um Humanista? O ensino de base que teve no liceu dava nítida primazia à História e à Literatura; mas não foi dali que, na realidade, ele recebeu os mais fortes impulsos intelectuais, mas de contactos ocasionais ou resultantes da sua procura pessoal junto de personalidades de formações muito diversas e que atraiam a sua curiosidade, como foi indicado acima. Considerando a vastíssima obra científica de Orlando Ribeiro (Ana Amaral e Ilídio Amaral, Bibliografia Científica de Orlando Ribeiro, 1984; Suzanne Daveau, Segunda Parte (1981-1995), Finisterra, 61, 1996, p. 81-97), convém introduzir outras distinções. Nota-se primeiro que tanto lhe interessaram diversos aspectos temáticos, encarados nas vastas escalas do Mundo português ou da Zona Intertropical, como estudos de tipo monográfico, praticados em qualquer escala, desde a de uma aldeia (Castro Laboreiro), de uma vila (a Sertã), ou de uma cidade (Lisboa, Veneza ou Toledo), como a de uma região mais ou menos definida (Serra da Arrábida, Portugal Central) ou de uma ilha (Madeira, Fogo) ou, ainda, de vastíssimos territórios como o Brasil ou Angola. Mas de qualquer modo, o tema subjacente às numerosas tentativas de interpretação que Orlando Ribeiro aplicou a diversificados fragmentos da superfície terrestre, parece ter sido sempre semelhante: ele procurou entender as relações ligando o Homem à Terra na própria altura em que os estudou, ou seja, no que constituía então, para ele, o Presente.Com efeito, este momento fugaz, entre o Passado e o Futuro, é o único acessível à observação directa do investigador - é o que lhe permite observar e entender melhor as interligações entre Ambiente e Sociedade, sem que despreze, por isso, as marcas deixadas pelos tempos passados, mesmo que longínquas e meio apagadas. |
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