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RIBEIRO, Orlando da Cunha | |||||||||||||
O caso de Albert Silbert (1915-1996) parece-me de particular significado. Tendo sobrevivido à Segunda Guerra mundial, este historiador francês veio a Portugal para preparar uma “monografia metódica e exaustiva”: Le Portugal Méditerranéen à la fin de l’Ancien Régime, publicada em1966. Orlando Ribeiro dedicará um pequeno livro (A Evolução Agrária no Portugal Mediterrâneo, segundo A. Silbert) à análise desta obra, inaugurando assim uma nova colecção do CEG-UL, intitulada Chorographia, Série Histórica. Este livrinho não é, com certeza, uma das suas obras mais conhecidas, nem atrai o leitor pela beleza do estilo, mas é o texto em que Orlando Ribeiro tentou mais directamente esclarecer as semelhanças e diferenças entre os pontos de vistas do Geógrafo e do Historiador. Com efeito, o espaço estudado por Silbert coincidia em boa parte com o que ele próprio tinha escolhido, 30 anos antes, como tema de uma projectada tese francesa, ou seja, com as vastas planícies da Beira interior e do Norte alentejano, nas quais ocorre a dupla transição, entre o Norte e o Sul de Portugal, e entre os Mundos atlântico e mediterrâneo. Depois de minuciosa análise, Orlando Ribeiro chegou à conclusão (p. 226) que a “organização” deste vasto espaço resulta do seu modo rural de vivência, o qual “ é pouco acessível à História e deve ser também considerado através dos métodos de observação e de inquérito directos, praticados por outras ciências, como a Geografia e a Etnologia”. Trata-se, portanto, de uma conclusão mitigada, que reconhece que as diversas especialidades científicas têm, cada uma, um eixo próprio, mas também largas margens, nas quais se cruzam pontos de vista diversos, capazes de se esclarecerem mutuamente. De especial interesse me parece também considerar o caso da última obra de Orlando Ribeiro, A Colonização de Angola e o seu Fracasso. Publicada em 1981 pela Imprensa Nacional, a primeira edição não teve nenhuma difusão significativa. Reeditada em 2014, o livro continua ainda hoje praticamente ignorado, mesmo por larga parte dos africanistas de alto nível. Ora, concebida e escrita numa altura em que longos períodos depressivos apenas deixavam ao autor curtos períodos de alívio, esta obra, de estrutura complexa, é talvez, no entanto, a que expressa melhor o seu modo de conceber um tema geográfico-histórico. A temporalidade que considerou é muito ampla e o material utilizado vai das múltiplas paisagens observadas durante as suas repetidas viagens, de 1935 a 1969, às conversas que teve com os habitantes casualmente encontrados, às suas próprias tradições familiares e às leituras acumuladas desde a juventude. Esta obra, como o historiador René Pélissier indicou em 1983, é sem dúvida “um pouco desconcertante”, sendo “um livro não conformista como há poucos entre os sábios”, mas é também um dos que permitem perceber melhor o modo de trabalhar de Orlando Ribeiro. Outra maneira de caracterizar a sua obra é considerar o reflexo que ela teve na dos seus discípulos. Foi um Professor universitário apreciado por um vasto leque de estudantes de especialidades diversas, tanto pelo brilho das suas aulas como, talvez ainda mais, pelo que transmitia aos participantes durante as jornadas de trabalho no campo. E será ao considerar a obra de alguns dos seus discípulos, que se poderá talvez melhor entender a visão histórico-geográfica do Mundo que lhes transmitiu, uma visão que partilhou também comigo, a partir dos anos 60, quando me levou a descobrir metodicamente Portugal. |
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