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RIBEIRO, Orlando da Cunha | |||||||||||||
Portanto, não me parece que se possa considerar Orlando Ribeiro como um verdadeiro Historiador, ou seja um investigador preocupado, antes de tudo, pela reconstrução dos tempos idos da Humanidade. Foi essencialmente o Mundo presente que quis descrever e entender, na sua instável fragilidade - mas sem deixar de tomar em conta o que conseguia conhecer dos tempos passados, que continuam responsáveis por parte das características e actividades humanas presentes, e que marcam ainda significativamente a paisagem de hoje. Orlando Ribeiro foi um Geógrafo ou, dito talvez melhor, um Humanista, que atribuiu sempre importância tanto aos aspectos históricos como aos naturais - ao Tempo e ao Espaço -, para melhor entender o significado da presença do “Homem na Terra”. AHistória, ciência da reconstituição do passado, foi para ele um útil instrumento e uma rica fonte de dados, como o foi a Paisagem (captada e arquivada através dos seus rápidos croquis, riscados nos Cadernos de campo, e das suas numerosas e bem escolhidas fotografias), e como o foram também as outras ciências vizinhas, a Geologia, a Pré-história ou a Etnologia. O tema histórico que mais o preocupou, ao longo de toda a sua carreira de investigador, foi, sem dúvida, o da Formação de Portugal. Já em Abril de1939, foi este título que o então jovem Leitor de Português na Sorbonne escolheu para uma conferência proferida em Bruxelas, no Instituto de Cultura Portuguesa. Em 1955, o mesmo tema será largamente desenvolvido no capítulo III do volume sobre Portugal, publicado em castelhano, em Barcelona. Em 1968, o Dicionário de História de Portugal, organizado por Joel Serrão, incluía um copioso artigo seu, de 19 páginas, tratando deste tema, enquanto o autor ia preparando um livro com o mesmo título, que devia reunir os vários artigos anteriormente publicados. Mas será apenas em 1987 que o livro projectado veio a público, na Colecção Identidade, do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa. Tendo-se esgotados os seus 3000 exemplares há já muito tempo, uma nova edição sai agora na Editorial Letra Livre, acompanhada de uma introdução de João Carlos Garcia. Entretanto, Orlando Ribeiro ia continuando as leituras relativas a este tema e publicou, em 1977,na Imprensa Nacional, um Estudo Crítico às Introduções Geográficas à História de Portugal, que dedicou “Aos alunos de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa que acompanharam, durante dois decénios, o meu ensino de Geografia Humana.” Discutia nele, com admiração ou com dura severidade, a obra de diversos historiadores, afirmando no prefácio: “Nunca me esqueci de que, se há mais de quarenta anos sou geógrafo, foi a vocação de historiador, haurida principalmente em Herculano, que me levou à Faculdade de Letras, onde encontrei alguns professores notáveis e outros péssimos, rareando os medianos.” Aparecem, neste livro, críticas incisivas às obras de três conhecidos historiadores - Oliveira Martins (1845-1894), Jaime Cortesão (1884-1980) e António Sérgio (1883-1969) - e afirma-se paradoxalmente, em conclusão, que o “longo confronto” a que se acabava assim de proceder, “saldava-se (…) por um fracasso (porque) o menos que se pode dizer (…) é que os autores sabiam muito pouco do que pretendiam tratar. Utilizam certas obras sem as citarem e desprezam grande parte da bibliografia geográfica já então existente. (…) Seja (-me) permitido exigir dos historiadores que dêem tanta atenção à Geografia como os geógrafos de boa formação tem concedido aos trabalhos deles.” Entre os autores de quem Orlando Ribeiro celebrou ou discutiu assim duramente a obra, encontram-se tanto longínquos antecessores (Camões e Alexandre Herculano), como outros já mais próximos (Alberto Sampaio, Oliveira Martins, António Sérgio e Jaime Cortesão) ou alguns que foram directamente os seus mestres (Manuel de Oliveira Ramos e David Lopes) e, até, colegas da própria geração (Torquato Soares, Albert Silbert, Virgínia Rau e Magalhães Godinho). Estes numerosos textos encontram-se hoje de acesso fácil, por terem sido compilados em Universidade, Ciência, Cidadania (2013), em Opúsculos Geográficos (2ª edição, tomo I, 2014) e em Mestres, Colegas, Discípulos (2016-17). |
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