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Jorge de Sena teve uma vida marcada por experiências profissionais que ajudam a compreender uma produção intelectual eclética pautada pela busca do conhecimento nas suas diversas perspectivas. Para reflectirmos sobre a relação do autor com a história e com a historiografia, é necessário enfatizar os sentidos sociais e humanistas dos seus escritos. Ainda que nunca tenha abdicado da independência ideológica, Sena recorrentemente se mostrou motivado por preocupações político-sociais próximas do marxismo. O poeta fez parte de uma geração que se impôs no universo literário nos anos 50 e foi marcada por valores baseados no humanismo e na noção do escritor comprometido com causas sociais. É sintomático que, no ensaio “Marx e o Capital”, preste justiça ao pensamento marxista, sublinhando a necessidade de encarar o conhecimento como algo não meramente teórico que contribui para transformar a sociedade (Maquiavel e Outros...). Uma das suas preocupações é a procura de modos de superar a separação entre o pensamento e a acção, o conhecer e o fazer, o pensar e o sentir, a cultura e a técnica (Lourenço, O Essencial Sobre..., p.32). No fundo, é a partir da percepção desta dialéctica entre o conhecer e o agir que detectamos influências marxistas no pensamento de alguém que não vislumbrava antagonismos entre a criação artística e o estar no mundo. A revisitação de alguns elementos biográficos de Jorge de Sena permite constatar o seu apego à liberdade, nas suas dimensões pessoais e colectivas. Filho de Augusto de Sena, comandante da marinha mercante, e de Maria da Luz Telles Grilo de Sena, nasceu em Lisboa, no seio de uma família burguesa de linhagem aristocrática. Depois de frequentar o Liceu Camões, aos 17 anos, seguindo a vontade paterna, ingressou na Escola Naval para seguir a carreira da Marinha de Guerra. Porém, a Guerra Civil Espanhola e a inadaptação à disciplina militar foram determinantes para que abandonasse a Armada (Idem, p. 18). Em 1938, matriculou-se na Faculdade de Engenharia do Porto, instituição na qual, cerca de seis anos mais tarde, concluiria a licenciatura em Engenharia Civil. Embora afastado de partidos políticos, desde jovem que Sena se envolveu em movimentos de oposição ao salazarismo. Ao dar expressão pública a visões políticas que contrariavam o funcionamento antidemocrático do Estado Novo, passou a ser alvo da fiscalização da censura e de pressões que culminariam no exílio. Em Outubro de 1945, um grupo de democratas, no qual Sena se incluía, reuniu-se no Centro Escolar Republicano Almirante Reis com a intenção de pedir ao governo o adiamento das eleições, a extinção da PIDE e o cancelamento dos serviços de censura. Daqui surgiu o Movimento de Unidade Democrática (MUD), que teria existência legal até 1948. Entre 1948 e 1959, data em que se exilou no Brasil, Sena exerceu as funções de engenheiro da Junta Autónoma de Estradas. Durante esse período, conheceu Portugal “como poucos o conhecerão, porque poucos terão usado de uma tal oportunidade com as preocupações de vê-lo culturalmente” (“Falando com Jorge de Sena...”, p. 415). Também ao longo dos anos em que trabalhou como funcionário público, traduziu obras que, de certa maneira, propagavam valores igualitários e libertários, tais como Fiesta (1954), de Hemingway, Um rapaz da Georgia (1954), de Caldwell, ou mesmo A Condição Humana (1958), de Malraux. Sena colaborou igualmente em relevantes periódicos da época, como A Presença, o Unicórnio, a Seara Nova, a Vértice ou os Cadernos de Poesia, responsáveis pela publicação de Perseguição (1942), o seu primeiro livro de poemas. As eleições presidenciais de 1958, que desencadearam uma onda contestatária em Portugal, assim como o seu envolvimento na Revolta da Sé, tentativa de golpe de Estado prevista para Março de 1959, contribuíram para que Jorge de Sena abandonasse o país (Vasques, Jorge de Sena, Uma Ideia de..., pp. 231-232). |
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