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SENA, Jorge [Cândido Alves Rodrigues Telles Grilo Raposo de Abreu] | |||||||||||||
Se bem que não seja historiador de formação, Jorge de Sena produziu obra literária e crítica em que a dimensão histórica está bem presente e que, por outro lado, merece ser analisada a partir de uma óptica historiográfica. Desde logo, a sua vida é em si mesma relevante para o entendimento da cultura portuguesa contemporânea e da história da oposição ao Estado Novo. Além disso, considerando os seus escritos na globalidade, não é exagero afirmar que neles existem elementos, ideias e conceitos fundamentais para a construção de visões de conjunto da produção cultural portuguesa, em momentos historicamente bem precisos. Sena escreveu abundante prosa sobre os mais diversos temas e autores, desde a história, a cultura e a literatura luso-brasileira, sem olvidar a literatura inglesa e norte-americana. A sua obra aglomera conferências, artigos, comunicações, recensões e até meros verbetes. Igualmente de destacar são as compilações de correspondência com figuras cimeiras da intelectualidade portuguesa e os volumes de ensaios publicados numa fase tardia da sua vida (ou organizados postumamente por Mécia de Sena, sua esposa). Acerca de um desses volumes, Estudos de História e de Cultura, constituído de ensaios publicados em fascículos a partir de 1963 na revista Ocidente e reunidos em volume em 1967, podemos afirmar que se trata de obra interdisciplinar que encontra na história um veículo para atingir algo mais abrangente e próximo dos interesses do autor, a cultura portuguesa nas suas múltiplas matizes. Entre os documentos dignos de menção constam o ensaio genealógico “A família de Afonso Henriques”, o estudo “O vitorianismo de dona Filipa de Lancaster”, o artigo “Os painéis ditos de ‘Nuno Gonçalves’”, no qual discorre sobre o quinhentismo ibérico e os folhetins de textos críticos que os ditos painéis geraram e, talvez o texto mais importante, “Inês de Castro ou literatura portuguesa de Fernão Lopes a Camões, com uma análise estrutural da Castro de Ferreira, um longo estudo com várias abordagens e aspectos [...]”. Dificilmente alguém afirmaria que os ensaios deste livro são produto de uma mente de puro historiador, uma vez que o que transparece da sua leitura é a certeza de estarmos diante de um espírito para quem a cultura era “livre discussão e esclarecimento e conquista pessoal da liberdade de reflexão e expressão” (O Essencial Sobre..., p. 30). Uma vez mais fica a sensação de que, da literatura portuguesa e europeia ao teatro do século XVI, do cinema à música, das ciências à filosofia, para Jorge de Sena não existe assunto que lhe seja alheio. Se não é mentira que na sua obra ensaística reside uma forte componente histórica - importa lembrar textos de evocação histórica como "Portugal e a sua história" e "Jaime Cortesão, o historiador” (Rever Portugal...) -, o mais certo seria acrescentar que os seus estudos são de história literária e cultural, e que se focam, na sua maioria, na produção livresca, nas influências de autores estrangeiros em Portugal em diferentes séculos, e até em análises literárias centradas no domínio da teoria literária. Ainda assim, quando pensamos, por exemplo, nos volumes da antologia Líricas Portuguesas (1958), não deixamos de reparar na preocupação do autor com a contextualização histórica da época (1909-1929), com a classificação histórico-literária e com o esboço sociológico dos poetas seleccionados, seguindo variáveis como a sua formação académica ou a origem geográfica. |
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