Basílio Teles não foi um historiador, no sentido literal do termo, mas reflectiu sobre o passado de Portugal e seus efeitos na sociedade contemporânea. Possuía uma concepção de História-Ciência nos moldes do positivismo vigente, fazendo a apologia dos métodos modernos de cariz científico, pondo em relevo o documento descoberto nos arquivos e mostrando grande preocupação com a verdade e o rigor. O processo de construção da narrativa passava, no seu entender, pela observação e análise dos factos sob o crivo de um exame crítico apurado, com o objectivo de validar ou refutar uma tese inicial que era ponto de partida para a interpretação dos acontecimentos.

Seguindo o método experimental, Basílio Teles buscava causas, efeitos, explicações: as suas análises visavam uma compreensão geral da História de Portugal com um intuito político e ideológico em que o passado servia de explicação ao presente e permitia vislumbres do porvir. Como tantos outros da sua geração, que perfilhavam as teorias do cientismo e do evolucionismo, Teles entendeu a nação como um organismo vivo – sujeito a períodos cíclicos de apogeu e decadência -, procurando no estudo das origens as características intrínsecas que definiam a sua individualidade histórica e personalidade moral, acreditando que nestas residia a solução para o futuro e a resolução da crise presente.

Na senda de Alexandre Herculano, Basílio Teles admirava a Idade Média portuguesa, salientando a índole rural e aristocrática da população - dedicada à agricultura e a um pequeno comércio benéfico, vivendo uma auto-suficiência frugal e saudável, sob a égide de um municipalismo orgânico e respeitador das liberdades locais. À semelhança daquele primeiro historiador, entendia ser esta a época que melhor consubstanciava a propensão natural da nação, representando o Portugal autêntico e único, fundado na sua originalidade nativa (Estudos históricos e económicos, 1901, p. 21). Teles partilhava ainda com Herculano a ideia de que a este período de apogeu se seguira outro – de declínio – firmado num mercantilismo «funesto, porque aventureiro e exótico» (O problema agrícola, 1899, p. 259) e num centralismo absorvente, que haviam causado o abandono generalizado da terra e a perda dos melhores elementos da sociedade portuguesa. De acordo com os argumentos antropológicos, etnológicos e geográficos em voga na época, Basílio Teles entendia que esta viragem de rumo representava também uma luta entre populações com características étnicas e formas de vida distintas – as gentes arianas do Norte e os povos semitas (moçárabes) do Sul do país. Os primeiros eram os representantes das comunidades primitivas peninsulares, gente que Teles acreditava ser crente e rude, mas imbuída de profunda ligação ao solo natal e por isso merecedora da sua simpatia. Os outros, de além-Tejo, eram «inquinados de sangue semita» (Estudos históricos..., p. 19), e, embora os afirmasse mais cultos e progressivos, havia um claro ressentimento do Autor em relação a esta população «de fundo europeu-africano, mesclado e indefinível» (Id., pp. 19 e 47).

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