À luz do quadro ideológico do movimento republicano a que pertenceu, a situação vigente era o resultado da incapacidade da Casa de Bragança para criar um movimento de espontaneidade colectiva que se traduzisse na revivescência da pátria. Ora isso prenunciava, para Basílio Teles, o fim do regime monárquico e não a dissolução nacional.

O livro Do Ultimatum ao 31 de Janeiro, onde o Autor expôs longamente a sua teorização sobre o destino de Portugal, fornece preciosos elementos para a compreensão do seu pensamento nesta matéria: a determinação em deixar firmada a sua participação nos acontecimentos que conduziram à revolta de 1891, no Porto, constitui uma declaração inequívoca da sua crença de que o movimento insurreccional seria a melhor solução para a conjuntura que então se vivia (Do Ultimatum..., p. 166). Aliás, já antes, nas Memórias Políticas, Teles desenvolvera esta questão da Revolução, entendendo-a como luta inevitável entre dois grandes ideais, o conservadorismo e a democracia, da qual esta sairia necessariamente vencedora porque «toda a democracia, seja onde for, e seja em que tempo for, marcha invencivelmente para a realização integral do seu programa» (Memórias Políticas, 1895, 127). Daí, o repto aos seus correligionários: «o Partido Republicano em Portugal, hoje, ou é revolucionário ou não é nada» (Id., 116). Repudiava, desta forma, qualquer outra solução política, sobretudo as propostas que passavam pelo entendimento com as forças monárquicas (progressistas).

Teles, embora céptico em relação aos instintos revolucionários da gente portuguesa – como o próprio diz, em consequência da desilusão sofrida em 1891 -, não deixava, porém, de acreditar na inevitabilidade do processo democrático e, por conseguinte, na necessidade dos homens do partido (os seus conterrâneos do Porto) passarem à acção. Do ponto de vista doutrinário, na senda do progressismo político, a ideia de que a República era uma etapa superior (e melhor) do que a Monarquia, justificava qualquer tentativa de acelerar o progresso, legitimando o golpe de Estado preconizado, à semelhança da Revolução brasileira de 1889 (Macedo, “Para um estudo estrutural...” , 195). As duas obras de Basílio Teles – Memórias Políticas e Do Ultimatum ao 31 de Janeiro - têm sido entendidas como produzidas com o mesmo objectivo comum, «o de oferecer aos republicanos portugueses um guia útil para a acção revolucionária, que mais cedo ou mais tarde, haveriam de desencadear de novo» (Domingues, “Do Ultimatum...”, 53).

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