A constante comparação com o periódico surgido vinte anos antes não é fortuita. Como se pode observar, boa parte dos referidos autores marcaram presença também em O Panorama. Além disso, como reconhecido mérito e esforço de letrados portugueses da época, o AP apareceu ainda na senda das novas ideias e condições abertas pela revolução liberal, das quais aquele periódico foi expressão anterior, apesar das necessárias ressalvas quanto aos avanços e retrocessos relativos à censura sofrida pela imprensa portuguesa.
Em geral, este quadro atravessou as décadas de 1820 e 1830, com significativa mudança a partir da outorga da lei de imprensa de 1834 e do fim do absolutismo. Ter em conta a conjuntura política que motivou o surgimento de periódicos literários permite que se aponte o caráter editorial do AP. Diferentemente do chamado jornalismo de opinião, projetos como os dos impressos mencionados acima se enquadravam naquele setor mais direcionado aos conhecimentos diversos e à instrução. Não por acaso, O Panorama surgiu no âmbito de uma organização civil denominada Sociedade Propagadora de Conhecimentos Úteis. Se nas primeiras décadas do século XIX foram elementos externos que determinaram o caráter da imprensa, com ênfase às invasões francesas e às influências dos emigrados (sobretudo de Inglaterra e de França) nas idas e vindas pós 1820 – como Herculano é conhecido exemplo, ao lado de Almeida Garrett e outros – a partir da segunda metade da década de 1830 uma reforma significativa aproximaria o Estado, cada vez mais centralizado, dos letrados interessados em intervir no novo modelo de sociedade que enfim era instituído. Esse movimento ganharia desdobramentos diversos e eles podem ser observados nas páginas do AP.
Apresentado em seu primeiro prólogo como um “jornal português e para portugueses” (AP, 1857, p. 1), a concepção editorial dos anos iniciais de AP resguardava perspectiva atenta às colônias na África e Ásia e, sobremaneira, ao Brasil. Nesse horizonte, a integração viria por meio do idioma, mas este não seria o único recurso. A edição de número um foi imediatamente aberta com uma gravura que representava a entrada do porto do Rio de Janeiro. Com tal decisão, as propostas primordiais estavam, de imediato, colocadas.