Muitos artigos acerca da fauna e da flora de cada um dos continentes estavam encaminhados nos números do AP. Ao lado desse gênero de material, havia textos que comparavam conceitos antigos e modernos – um exemplo aparece já no primeiro número com a análise de um poema de Ovídio –, paralelos biográficos que aproximavam os antigos generais romanos (Césares) aos modernos Bonapartes franceses, bem ao modelo de Plutarco, além de excertos de obras morais desse e de outros autores antigos. Esse diálogo entre antigos e modernos é matiz interessante a ser observado, pois reúne os problemas mais complexos com os quais se debatiam os letrados oitocentistas. Merece ser mencionada a necessidade percebida por estes naquilo que tangia à clareza de propósitos do AP. Em 1858, um artigo cuja chamada era “Os filósofos antigos, a moral e os tempos modernos” não perdia a chance de demarcar a diferença entre o ensino da moral no passado, por meio da palavra falada, e, no presente do século XIX, a função atribuída à imprensa para a mesma tarefa. A eficiência do orador antigo era tida como mais evidente, sabendo-se que parcela significativa da sociedade moderna ainda não dominava a leitura (AP, 1858, pp. 180-181).
É possível considerar que a permanência de uma educação de base retórica auxilie na compreensão desta qualidade de comunicação com o passado. Entretanto, é preciso avançar justamente na carga política que, entre antigos e modernos, a retórica sempre abrigou. A comprovação de que este último traço não estava resolvido pode ser verificada no constante artifício de sublinhar o programa do jornal, cujos focos, nos termos de António Feliciano de Castilho, eram “divertimento e variedade” (AP, 1859, pp. 281-283). Repetidamente, era necessário dizer que o semanário não tratava de assuntos políticos. Deve-se salientar que a matriz educativa do programa geral da revista relacionava-se com o contexto de consolidação da sociedade liberal, cuja base, à época, estava na construção de uma sólida identidade nacional a partir de elementos culturais e históricos portugueses. A observação dessas diretrizes permite o exame do ambiente público da chamada época da Regeneração e de suas relações com o passado.