Indirectamente, A. Ferrão considerava que o papel cívico e moral das academias, sobretudo no período posterior à Primeira Guerra Mundial, era decisivo, como pronunciou em As Causas «Ideais» da Conflagração e a Função Pedagógica das Academias Científicas após a Guerra, de 1918, em que invoca a figura de Teófilo Braga enquanto presidente da Academia das Ciências de Portugal. Mas como palestrante, funcionário do ministério da Instrução Pública e teorizador sobre a importância das universidades, academias, cinema e teatro para a educação popular, parece ter desenvolvido um esforço constante para procurar as causas profundas das guerras entre os povos e reorientar as energias de elites e massas para fins mais pacíficos e civilizadores (Dicionário Bibliográfico Português…, t. XXII, 1923, pp. 266-269 e 535-536).

No caso da arquivística, António Ferrão chamou (ou voltou a chamar) a atenção da importância dos documentos inéditos e provenientes da diplomacia como fontes históricas, bem como dos documentos portugueses e referentes a Portugal, por explorar ou inventariar nos arquivos e bibliotecas estrangeiros, tal como antes dele vários membros da Academia das Ciências de Lisboa haviam feito. Correia da Serra em Itália, Ferreira Gordo em Madrid (durante a célebre comissão de sócios de 1788-1794), o visconde de Santarém no Rio de Janeiro, em Londres e Paris entre 1809 e meados do século XIX, marcam períodos em que já existia clara valorização e procura sistematizante de tal tipo de fontes. Em obras de 1916, 1917 e 1922, Ferrão relaciona essas temáticas com o que considera serem a teoria da história e os progressos da historiografia científica, sempre com base em catálogos impressos de manuscritos de instituições europeias (as que ia visitando) e nas colecções documentais de vários países, entre eles Portugal. Sumariza também “A fase actual da metodologia histórica”, embora note que as ideias de que fala não são suas, o que retira originalidade e interesse a este aspecto da questão (Os Arquivos de História de Portugal no Estrangeiro, 1916; Da importância dos documentos diplomáticos em História, 1917; A Teoria da História e os Progressos da Historiografia Científica, 1922, pp. 347 e ss.).

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