O objetivo era reconhecer o “homem de seu tempo”, que se parece com os demais “homens de seu tempo”; no seu caso, era a busca do entendimento de quem era aquele “homem barroco” da época da Restauração, que simultaneamente colonizava o Brasil.

O interesse pelo contexto pode lembrar o Zeitgeist historicista e certamente conheceu a obra de Huizinga, além de se referir a Herder quanto à questão das atitudes mentais de uma época. Mas a influência dominante foi a dos Annales, na inflexão de Lucien Febvre, com seu gosto pela psicologia social e na de Marc Bloch, com sua inclinação sociológica.

França advoga como principal esforço de interpretação do historiador a “compreensão” mas, a despeito de uma breve menção a Simmel num texto de 1951 sobre a “função cultural da história”, não teve maior contato com a sociologia ou a hermenêutica alemãs. Sua concepção é de Bloch, conforme se apresenta no célebre capítulo “julgar ou compreender?” do Métier d’Historien. Uma função psicológica apreendida intuitivamente, que não é – e França o sublinha - conselho de passividade nem de cumplicidade e que nada tem a ver com os passos metodológicos conforme definidos em diferentes procedimentos hermenêuticos.

Mas como se chega a esse resultado? França questiona sucessivamente: o que é o historiador? o que faz? como faz? para que faz? Partindo da ideia de que o historiador atua no âmbito de uma ciência do homem e “dos homens no tempo”, na fórmula dos Annales que repetia, o como se iniciava com uma “explicação antecipada – hipótese – que tem fome de fatos para sobreviver.” Insurgindo-se contra o caminho apontado por Langlois-Seignobos e ainda endossado por Louis Halphen, onde dominava o primado do documento, o historiador afirma que, baseado na hipótese formulada e no estado da questão historiográfica confrontado com as informações disponíveis, o pesquisador pode ou não comprovar suas ideias. Quanto ao para que, a resposta de França é decididamente não pragmática, remetendo a uma categoria, senão ontológica, pelo menos transcultural: “Para que serve a história? Talvez não sirva para nada. Não sei para que serve a história. Como não sei para que serve a beleza, para que serve o sentimento do amor e todo nosso equipamento efetivo que parece servir para não servir. Sei que a História continuará, que o homem continuará a fazer a História, a pensar a História, a sentir a História.(...) Com maior ou menor intensidade, não importa. Nenhuma grande civilização houve que não tivesse de alguma forma cuidado de sua História, próxima ou remota.” (Eduardo d’Oliveira França, Conversa em torno de nosso ofício, Anais de História, n. 6, 1974, p. 13).

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