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MAGALHÃES, Joaquim Antero Romero Faro, 1942 – Coimbra, 2018 |
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Ainda jovem, e desde logo na sua referida tese de licenciatura, Romero Magalhães já conjugava a erudição histórica com um estilo narrativo quase literário e uma ironia mordaz. Entendia a História como um ofício de escrita centrado na explicação e na lógica causal dos fenómenos, mas sem conceder a ornamentos teóricos desapegados do tempo e dos espaços. Sempre entendeu que a pesquisa de documentos e das demais fontes históricas obrigam o historiador a construir uma ética de arquivo e a fazer uso desses traços do passado numa dupla perspectiva: enquanto instrumento probatório e enquanto exercício de imaginação narrativa verosímil. Primeiro a publicação de fontes, depois o estudo, a análise e a síntese escrita. Formado na influência da grande historiografia francesa da Escola dos Annales, atento aos conceitos e recursos metodológicos de diversas Ciências Sociais, mas avesso a sociologismos, Romero Magalhães entendia o arquivo e o arquivista como agentes de mediação entre o historiador e as instituições públicas. Assim se compreende o seu gosto por bibliotecas e arquivos e a sua preocupação provisional relativamente à Biblioteca da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, onde se encontra boa parte do seu espólio bibliográfico, bem como ao Arquivo Municipal de Loulé que, em Abril de 2021, em homenagem póstuma, recebeu o seu nome. Historiador bibliófilo e humanista, imaginava problemas historiográficos e construía ideias de investigação partindo da leitura de opúsculos antigos, folhetos, narrativas de viagem, discursos, memórias e outras fontes impressas. Essa prática quotidiana, não apenas de investigação, mas também de pedagogia docente, constituía a base do seu método de trabalho, um ofício persistente e exigente consigo próprio. Historiador de pesquisas, combinava a mestria arquivística com uma tremenda intuição de análise sobre os contextos da acção humana e a contingência dos processos históricos no seu tempo. Atento à natureza dos espaços e ao jogo dos poderes, conjugava com facilidade a long durée de Fernand Braudel com outros tempos e escalas, de modo a explicar as relações entre a acção e o meio. Na historiografia de Romero Magalhães, há diversos traços braudelianos, mas um deles é muito saliente em várias publicações de sua autoria: o tempo também é geográfico, a história inclui temporalidades múltiplas que se entrecruzam e que obrigam a procurar dialécticas de globalidade – conjuntos e subconjuntos explicativos. Para dar vida a esses quadros imbrincados de acção humana e institucional, fazia uso da imaginação narrativa e de uma capacidade de escrita fluente e de estilo literário. |
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