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As cartas enviadas ao Conde de Lavradio eram “desabafos” dirigidos a um dos poucos que compreendiam o rei. O aspecto “sombrio” que transparecia da sua fisionomia conferia-lhe um “semblante triste, taciturno”. Durante o seu breve reinado (1855-1861), não assinava nenhum decreto dado em conselho de ministros sem o levar para o seu gabinete e o analisar, independentemente do assunto versado. A sua “integridade de carácter” (contra a perversão reinante) levara-o a criar a Caixa Verde, colocada à porta do Palácio das Necessidades, onde quem quer que fosse poderia deixar as suas ideias, e a Caixa Azul, destinada aos requerimentos do que pretendiam obter esmolas (ibidem). Em 1854 e 1855, durante a regência de D. Fernando, D. Pedro e D. Luís fizeram viagens ao estrangeiro. Ruben Andresen Leitão considerava que, por terem-no posto em contacto directo com as inúmeras inovações de um mundo mecânico que nascia à vista de todos, estas viagens tinham sido fundamentais para consolidar uma dupla vontade de reforma moral e material que caracterizaria todo o reinado do monarca. Por conseguinte, contendo projectos que desejava pôr em prática no nosso país, os Diários resultantes destas viagens seriam, segundo o historiador, os documentos mais relevantes para o estudo do seu modo de pensar (a ideia de ciência, de aplicação directa, de progresso mecânico). Conta-nos o autor que, com apenas dezasseis anos, D. Pedro lia e observava tudo, tomava conhecimento da aplicação de máquinas a vapor à agricultura, examinava bibliotecas inglesas, admirava os quadros do palácio de Buckingham, deixava-se fascinar pelo Museu das Ciências Naturais Britânico, pela Real Academia, pela Royal Polytechnical Institution ou pela fábrica de pistolas de Samuel Colt, anotava nos seus diários reflexões sobre, por exemplo, o projecto de lei de promoções para o exército, a reorganização das repartições dependentes do Ministério da Guerra ou o parecer relativo ao aumento de artilharia de campanha (ibidem). Notava o historiador que todo o reinado de D. Pedro V ficou marcado por um espírito reformista, e dava exemplos como a lei de 14 de Julho de 1856, que criara um novo regulamento provisório disciplinar, para o uso do Exército, abolindo as varadas e a pancada com espada de prancha. Não obstante o que já se mencionou, no entendimento de Ruben Andresen Leitão, a obra capital do monarca relacionava-se com o problema da instrução pública no nosso país. Lembrava, a título ilustrativo que no seu tempo que foram criadas a Escola Normal e a Escola Modelo (1860) e inauguradas quatrocentas e trinta e seis escolas de instrução pública e o Curso Superior de Letras (1861). |
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