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Em Kaos (1981), romance póstumo, diferentes personagens cruzam-se para descreverem o ambiente violento, extremista e não poucas vezes absurdo da I República. Insinua-se, por exemplo, em estilo de paródia, que os homens republicanos, na fome de reuniões e de decisões, prescindiam da companhia de suas mulheres para estarem com homens. Com a mesma carga humorística são feitas descrições de alguns rituais maçónicos. E há a violência, a irracionalidade dos homens que preferem destruir facções opostas em vez de se unirem em torno de um projecto político de engrandecimento da pátria. Já em Caranguejo (1954), o autor desenvolveu um estilo de narração que consistia num exercício de memória, num andar para trás em relação ao que já viveu (analepse). Este processo, que permaneceria ao longo das suas obras literárias subsequentes, estaria também presente, tanto nos volumes de Páginas (1949, 1950,1956,1960,1967 e 1970) como n’ O Mundo à Minha Procura (1964 e 1968), autobiografias de estilo ficcional, onde encontramos memórias da Segunda Guerra Mundial, da escola, dos namoros, do Porto, de Lisboa, de Coimbra, da Inglaterra e de muitos outros países que, por diferentes motivos, foi visitando. Nestes volumes de autobiografia ficcionada, como de certa forma em Um Adeus aos Deuses (1960) – um livro onde escreveu sobre aquilo que viu durante a sua estadia na Grécia –, a beleza das descrições da juventude, das namoradas, da avó ou dos ensinamentos de mestres como Agostinho da Silva, relegam para segundo plano uma certa amargura que o escritor nunca conseguiu abandonar em relação ao seu país materno. |
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