Em 1842, quando lê o seu texto, Macedo está literalmente transmutado num arabista (transcrevendo mesmo textos em árabe). Pouco ou nenhuma intervenção directa terá na questão específica dos descobrimentos henriquinos, retomada graças à publicação parisiense da Crónica do descobrimento e conquista da Guiné, de Zurara, com introdução e notas do visconde de Santarém (1841).

Há que não esquecer, pois, a verdadeira natureza intelectual de Macedo: a de um diletante, bibliófilo, «erudito literato», nas palavras de Acúrsio, especialista na geografia medieval, segundo Adrien Balbi . Em obras dedicadas à cerâmica murrina e à difusão da língua grega em Portugal, Macedo, na senda de outros homens de vasto saber com percurso vincado na Academia das Ciências, como Ribeiro dos Santos, Garção Stockler e D. Francisco Alexandre Lobo, dissertou sobre fontes clássicas e árabes da geografia, sobre temas da arqueologia e da história de arte. Infelizmente, de uma extensíssima vida de quase noventa anos, em que Macedo se terá embrenhado na cultura dos livros e das sociabilidades académicas, pouco resta de produtivo, de concreto e sistemático. Os seus textos sobre a geografia dos descobrimentos são meros tentames, nem sequer comparáveis aos pioneiros esforços de Ribeiro dos Santos e de Mendo Trigoso (morto aos 48 anos de idade); e ficam muito aquém dos trabalhos sistemáticos de um cardeal Saraiva, de um visconde de Santarém, de Navarrete ou de Walckenaer. Tal ecletismo de assuntos é típico da época oitocentista, na qual vigora uma noção enciclopédica e não disciplinar da cultura – a qual, acrescente-se, no caso de Macedo, acaba por tingir o objecto histórico com cores de uma erudição amiúde contraproducente.

Pela sua longevidade, Joaquim José da Costa de Macedo foi testemunha importante de muitos dos acontecimentos dos reinados de D. Maria I a D. Luís I (não deixou contudo correspondência ou memórias publicadas). Influenciou, enquanto autor e secretário perpétuo da Academia das Ciências, o movimento cultural e historiográfico que a instituição conheceu, aquando das reformas dos estatutos internos, em 1834, 1840 e 1852. Conviveu com várias gerações de historiadores nacionais, de Caetano do Amaral a Herculano, de João Pedro Ribeiro ao visconde de Santarém. Desempenhou um papel importante (embora secundário) na historiografia dos descobrimentos portugueses e na continuidade de uma determinada tradição erudita no seio da agremiação.

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