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MATTOS, Gastão de Mello de | |||||||||||||
A obra plural de Gastão de Mello de Mattos permite-nos compreender o motivo pelo qual defendeu, abnegando a insularidade dos historiadores e a especialização temática, o recurso à interdisciplinaridade e ao trabalho em equipa sustentado em projectos conjuntos agregadores de diferentes metodologias que, em sua opinião, deveriam ser idealmente dirigidos por um «técnico de ideias gerais» para assim se alicerçarem no conhecimento mais amplo proporcionado pelo todo do grupo (Idem, “Resposta do académico…”, 1956, pp. 39-41). Considerou que em Portugal apenas Virgínia Rau, sobre quem escreveu, em 1954, uma pequena nota biográfica aquando da admissão desta na Academia Portuguesa da História, partilhava desta mesma visão (Idem, ibidem, p. 38). Se tivermos em conta este modo como Mello de Mattos encarava a forma de fazer História, percebemos facilmente a ponte que estabeleceu entre esta e a arqueologia militar, um campo pouco explorado em Portugal. O seu nome ficou associado às escavações realizadas no campo militar de São Jorge, o presumível local da batalha de Aljubarrota, no âmbito de um projecto realizado entre 1958 e 1960 em parceria com a Comissão de História Militar, liderado pelo arqueólogo Afonso do Paço, e que contou ainda com a participação do Tenente-Coronel Augusto Botelho da Costa Veiga que juntamente com Mattos seriam os «grandes entusiastas do estudo da batalha» (J. G. Monteiro, Aljubarrota Revisitada, 2001, p. 7). Os resultados preliminares destas escavações sairiam a público em Aljubarrota - Trabalhos em execução de arqueologia militar (1958), um trabalho que, não obstante à natural datação e conclusões extraídas de intervenções mais recentes feitas no terreno, continua a ser revisitado pelos historiadores militares e tem produzido variadas e hipotéticas (re)interpretações reconstitutivas da batalha de Aljubarrota. Mello de Mattos continuou inclusivamente ligado àquele empreendimento após a conclusão do projecto e chegou mesmo a liderar visitas guiadas naquele campo de batalha. O percurso historiográfico de Gastão de Mello de Mattos insere-se na lógica daquilo a que José Amado Mendes chamou a «história vista de dentro», fazendo coincidir a sua formação profissional com o seu ofício intelectual: um militar que trabalhava história militar (J. Mendes, “Caminhos e problemas…”, 1996, p. 393). Distinguiu-se pelas ideias inovadoras e temporalmente amplas no período cronológico que dista da idade média à contemporânea, incidindo particularmente nas formas de recrutamento do exército português, na carreira e organização militar, partindo muitas vezes de uma perspectiva micro e da «pequena guerra», que se deveria privilegiar em relação aos grandes marcos e campanhas militares (G. M. Mattos, Um soldado…, 1939, p. 5). Ademais, de braço dado com a história militar, a história política foi outro dos seus interesses, destacadamente o estudo da Restauração de 1640 e os fenómenos consequentes que foram cronologicamente além desta data, tais como a guerra com Castela (1640-1668) e as repercutentes crises internas da corte portuguesa nesta época. Na sua óptica, este era um tema quase inesgotável, ainda que as motivações de Mello de Mattos para o seu estudo se prendessem também com uma busca pessoal pela «verdade histórica» e pela vontade de desmistificar «a mentira acumulada durante mais de um século» (G. M. Mattos, Nos bastidores…, 1941, p. 7). |
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