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MATTOS, Gastão de Mello de | |||||||||||||
Mattos apesar de dividir a História na sua matriz metade ciência, metade arte, considerava que a temporalidade finita e limitada desta disciplina tornava apenas possível alcançar provisoriamente a «verdade científica», como sublinhou António da Silva Rêgo ao lembrar que o artigo “Probabilidade Histórica” (1944) foi o único texto de debate de natureza teórica e historiográfica publicado pela Academia Portuguesa da História (A. S. Rêgo, History in times of fascism…, 2015, p. 27). Ademais, tornou centrais nos seus estudos sobre a Restauração figuras cruciais para compreender a política e o governo do Portugal seiscentista e, sobretudo, as facções políticas encabeçadas por indivíduos como Sebastião de César de Meneses (G. M. Mattos, Nos bastidores…, 1941), ou o conde de Castelo Melhor, cuja deposição, como notou Vinícius Dantas ao analisar os trabalhos de Mattos, terá sido mais importante que a do próprio rei, Afonso VI, por ter exposto os vários partidos e respectivos projectos dentro da corte portuguesa (V. Dantas, “A privança…”, 2013). Serviu-se ainda da prosopografia e da pequena biografia enquanto parte do seu modelo de observação geral, bem como da análise de agentes secundários, mas cuja acção permitiria justificar o papel de outros actores principais na intriga política (Idem, O Sentido…, 1944, p. 338). Nesta lógica, Nuno Gonçalo Monteiro destacou ainda a visão inovadora de Gastão de Mello de Mattos ao vincar a «contraposição entre o modelo corporativo e o modelo individualista», uma ideia que viria a ser retomada mais tarde por António Manuel Hespanha (N. G. Monteiro, “Identificação da política setecentista…”, 2001, p. 963). Acrescente-se a esta novidade o facto de ter destacado a característica endémica que permite perceber o fenómeno restauracionista e a luta pela independência de Portugal face ao reino vizinho ao considerar a existência de um consuetudinário «sentido político da vida portuguesa», que apelava organicamente ao regresso do sistema medieval e «às formas tradicionais do governo», justificação que se sobreporia, argumentava Mattos, a qualquer sentimento saudosista nacional ou aos interesses da conjuntura externa, um fenómeno nem sempre compreendido pelos «observadores estrangeiros» e que permaneceu «na obscuridade pela maior parte dos nossos historiadores» (G. M. Mattos, O Sentido…, 1944, p. 339). Nos seus trabalhos assistimos a uma inegável influência do historiador inglês Edgar Prestage, com quem se correspondeu, uma afinidade colhida pela proximidade cronológica e temática partilhada entre ambos por figuras como o conde de Castelo Melhor ou D. Francisco Manuel de Melo. Numa carta redigida em 1943, Prestage confessava já não ter «energia bastante para escrever mais um livro sobre D. Francisco Manuel» (G. M. Mattos, “Documentos inéditos…”, 1955, p. 170), parecendo pretender delegar subliminarmente em Mattos a sucessão desta tarefa, a qual, de facto, viria a concretizar num estudo preliminar publicado em 1955 (Idem, “Documentos inéditos…”, 1955). Do Portugal de seiscentos, Mattos espraiou-se até à centúria seguinte, trabalhando essencialmente assuntos de história militar, política e diplomática, campo último sobre o qual nos deixou contributos fundamentais ao prefaciar e editar, por exemplo, as Memórias da paz de Utreque (1931) dando continuidade noutros referentes ao envolvimento português na guerra da Sucessão espanhola (1702-1714). |
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