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MATTOS, Gastão de Mello de | |||||||||||||
Ainda antes dos seus primeiros trabalhos no campo historiográfico, Gastão de Mello de Mattos manteve um fervoroso activismo ao serviço do regime deposto no dia 5 de Outubro de 1910, o que resultou no seu envolvimento, ainda que alegadamente indirecto, na conspiração militar e nos consequentes crimes perpetrados por marinheiros e arsenalistas radicais na “Noite Sangrenta”, a 19 de Outubro de 1921, que teve como desfecho o massacre e a morte das figuras mais relevantes do governo republicano nomeadamente de António Granjo, presidente do Ministério, do tenente Freitas da Silva, e ainda de Machado dos Santos e Carlos da Maia, os dois homens mais proeminentes da implantação da República em Portugal (R. Brandão, A Noite Sangrenta…, 1991, p. 19). Berta da Maia, viúva do último, levou a cabo uma intensa investigação a título pessoal que teve como fim último apurar os autores morais responsáveis por este crime, publicando as suas conclusões num livro de memórias, no qual figuram as confissões do principal acusado, Abel Olímpio, «o dente de ouro». Foi aliás este último quem sugeriu uma possível relação entre os acontecimentos da noite de 19 de Outubro e a revolta de Monsanto, conhecida como Monarquia do Norte (1919), resultante da vontade de vários homens em vingar a morte do rei D. Carlos, avançando com o nome de alguns monárquicos dos quais fazia parte Gastão de Mello de Mattos (B. Maia, As minhas entrevistas…, 1928, p. 25). Tendo sido inquirido a 4 de Novembro de 1926 na Repartição Investigação Criminal, no auto de Mattos podemos ler o depoimento no qual confessa ter feito parte da liderança de «uma organização revolucionária de carácter conservador» e nacionalista, que teria como fim último o restituir do regime monárquico em Portugal (Idem, ibidem). No entanto, o processo que lhe foi instaurado pela Direcção de Justiça e Disciplina e que sustentaria a sua demissão do exército, em 1919, refere que Gastão de Mello de Mattos terá dito em voz alta ao sub-chefe e ao chefe de Estado Maior do quartel general da 5ª Divisão, no qual só deveriam servir oficiais republicanos, que «era monárquico e que devia ir-se embora, isto durante o período da insurreição monárquica do norte do paiz no ano de 1919», acusação da qual recorreu, pelo menos até 1938, argumentando nunca ter prestado semelhantes declarações que o vinculassem «a qualquer movimento revolucionário ou de apoio nos seus dirigentes» (Processo Político…, Arquivo Histórico Militar, Direcção de Justiça e Disciplina). Estamos, por isso, na presença de dois testemunhos contraditórios, ainda que nos pareça incontestável a ligação de Mattos à revolta monárquica de Monsanto. Mattos, acabaria, contudo, por colaborar ao denunciar alguns dos nomes dos responsáveis pelo pagamento feito aos marinheiros envolvidos nos acontecimentos da “Noite Sangrenta”, sugerindo ainda o envolvimento de políticos monárquicos espanhóis, sem que, no entanto, nenhum dos personagens referidos, segundo Berta Maia, tenham sido interrogados na sequência desta confissão (R. Brandão, A Noite Sangrenta…, 1991, p. 217). Este processo nunca chegaria a um termo conclusivo e vários historiadores procuraram encontrar e imputar a autoria moral destes crimes, pendendo entre evidências pautadas por motivações republicanas radicais ou monárquicas conservadoras. |
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