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PIMENTA, Alfredo Augusto Lopes São Mamede de Aldão, 1882 – Lisboa, 1950 |
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Alfredo Pimenta faz frequentemente defesa dessa prossecução da objetividade histórica, na linha de Fustel Coulanges (que cita frequentemente, apesar de não seguir de forma linear as ideias deste de história-ciência) e da análise sistemática das fontes como garante da verdade histórica (“[…] o melhor dos historiadores é aquele que se mantém o mais perto dos textos, que os interpreta com segurança e que só escreve e pensa como eles” – Idade Média, problemas e soluções, 1946, p. xiv). Mas as suas obras acabam, não obstante, por revelar uma certa tensão entre essa apologia da história objetiva e uma ambição de reescrever a história nacional pelo prisma do nacionalismo tradicionalista, apologético em relação ao Estado Novo, e focado numa ideia da missão que pretendia fazer cumprir Portugal: “em História de Portugal, é verdadeiro tudo quanto glorifique a Nação portuguesa; é falso tudo quanto a deprima, a diminua, a enerve, a enxovalhe” (Novos estudos filosóficos e críticos, 1935, p. 107). Posição alinhada com o paradigma historiográfico em que se inseria. É um facto queos usos da história, desde a segunda metade do século XIX, eram diametralmente orientados (do campo monárquico ao republicano e ao tradicionalista) no sentido da construção de narrativas que sustentassem as diferentes visões de cada grupo sobre a nação; mas também se pretendia que cumprissem uma necessidade de “renacionalização” do país. Todavia, até dentro de um mesmo grupo as narrativas não são sempre totalmente coincidentes. Não há em Pimenta uma perspetiva de utopia regressiva como a que Paulo Archer de Carvalho entrevê no Integralismo Lusitano, embora haja uma valorização de figuras históricas consideradas modelares; não há também uma concordância com autores de outras correntes tradicionalistas face à legitimidade de D. Manuel II ou dos descendentes de D. Miguel; e, já nos anos 30, a investigação do historiador vimaranense centrar-se-ia fundamentalmente na Idade Média, afastando-se da Restauração, o outro período paradigmático tradicionalista. Em todo o caso há, isso sim, uma certa intenção pedagógica e relativismo do conhecimento científico subjacentes à obra de Alfredo Pimenta: “[…] estudando e ensinando o que foram as instituições sociais portuguesas, sem comentários tendenciosos, sem subjetivismo pessoal, nos habilita ao conhecimento do que foi o passado e nos leva, portanto, à noção da orientação que devemos imprimir ao presente (Novos estudos filosóficos e críticos, 1935, p. 125 – sublinhado nosso). Na linha de um historicismo nacionalista, o historiador vimaranense pretendia ocupar o espaço da narrativa liberal, substituindo-a pela da “verdade que serve a […] Pátria e não a que pode prejudicá-la ou diminuí-la” (Idem, p. 107). De resto, já nos anos 40 dirá que não se fez historiador para servir a política, mas que fora a História que o firmara nas suas convicções políticas (Idade Média: problemas e soluções, 1946, p. viii). |
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